Dandara nasceu do encontro de sonhos ousados. Do sonho dos militantes das Brigadas Populares em construir uma ocupação diferente, que pudesse gerar uma experiência que encantasse, que servisse de exemplo para repensar a cidade; do sonho do MST em unir o campo e a cidade, desfazendo as fronteiras que geram um distanciamento entre as lutas por terra em todo o Brasil; e dos sonhos de centenas de famílias em ter uma terra para construir sua moradia, para plantar, criar seus filhos e construir uma comunidade diferente para viverem.
Um ano antes de ser levantado o acampamento, a ocupação começou a ser discutida em reuniões entre os militantes das Brigadas e do MST que desejavam fazer uma luta conjunta articulando as pautas da reforma urbana e da reforma agrária. O MST trouxe para o debate um modelo de ocupação rurubana, que estava sendo construído em outros lugares com o nome de “Comuna de Terra”.
A proposta rururbana traz dimensões da ruralidade e da urbanidade articuladas na esfera do trabalho e da produção. Desta forma, ela possibilita a superação das limitações dos modelos clássicos de ocupação. Como explica Joviano Mayer, militante das Brigadas Populares, “os assentamentos rurais, onde a família tem que morar dentro do assentamento e cultivar a terra, se chocam um pouco com a realidade nacional cada vez mais urbana”. Por sua vez, nas experiências de ocupação urbana realizadas em Belo Horizonte as dimensões do trabalho e da produção não estavam articuladas no território e as famílias tinham que passar a maior parte do tempo fora da ocupação, o que dificulta a criação de laços mais fortes de cooperação e solidariedade na comunidade.