A luta na terra e pela terra na Tauá
A Gleba Tauá, trata-se de uma área de terra da União Federal que está em disputa judicial entre 82 famílias camponesas de posseiros e ocupantes com o suposto fazendeiro Emilio Binotto. Que é um grande produtor de soja catarinense que alega propriedade de 17.735,000 hectares de terra. Essa é uma das comunidades camponesas de posseiros tradicionais da região Nordeste do Tocantins, que foi formada por famílias que viviam em terras comuns de forma itinerante. As primeiras famílias, a se fixarem nessa terra,na década de 1950, eram famílias camponesas que migraram do estado do Maranhão para Norte de Goiás (atual Tocantins) em busca de terra e melhores condições de vida.
No início, a Tauá era uma comunidade bastante populosa, eram famílias extensas, que ocupavam as terras principalmente nas margens dos córregos, e por isso, de alguns córregos terem o nome dos antepassados (Cabeceira do Rosa, Cabeceira do Duque, etc.).
Outro aspecto importante que caracteriza essa comunidade, é a religiosidade e a espiritualidade das pessoas, manifestada especialmente pelo catolicismo popular, através dos festejos e das celebrações dos santos(São Pedro, Divino Espirito Santo, Santo Antônio, Santa Luzia, Santo Reis e Bom Jesus da Lapa). As rezas acontecem em cumprimento de promessas para cura de doenças e proteção das famílias, pois no passado não tinha acesso aos serviços de saúde pública. Assim, Dona Carmina e Seu Ananias, moradores da Tauá há 60 anos, falam que celebram no dia 06 de agosto, Bom Jesus da Lapa, em cumprimento de uma promessa que Dona Carmina fez para o santo, pela cura do seu esposo. Eles celebram também, o dia 11 de fevereiro, dia de São Lazaro, também é uma promessa de Dona Carmina, para a cura de uma ferida da sua perna. Pois, mesmo com o tempo moderno das tecnologias, ela acredita que a cura só aconteceu após se apegar a São Lazaro. Dona Raimunda, também é outra moradora antiga, que tem muita fé nos santos, ela celebra o dia de Santo Reis. Pois para ela, os santos lhe protegem e tem dado força para enfrentar o que ela chama de perversidade dos grileiros. Outro morador, o Seu André, celebra o Divino Espirito Santo.
Figura 3 Altar de Dona Carmina depois da Reza de Bom Jesus da Lapa
Fonte: Antônia Laudeci Morais (2018)
Dona Carmina, Dona Raimunda e Seu Ananias, recordam que a comunidade Tauá, tinha uma outra forma de viver a vida. Pois tinham mais tranquilidade e conseguiam fazer as festas surpresas e juntar toda a população. “O povo ia a pé ou cavalo, mais iam, sempre tinha festa”. Mas, nos últimos tempos, segundo Dona Carmina, não se faz mais festas, apenas as celebrações e poucas pessoas vão. A mudança, segundo eles, veio com o corte das terras, que individualizou as propriedades e provocou o desassossego de muitas famílias.