A Produção de alimento como resistência
Outra importante característica da Tauá, é a produção de alimentos diversificado que resiste aos impactos da monocultura pelo grileiro. A pesar das famílias posseiros e ocupantes, estarem cercadas por lavouras de soja e confinadas em pequenas áreas de terras inferior a 5 hectares. Elas desenvolvem a produção de alimentos através das roças de toco e de quintais produtivos. Tendo como sistema de produção,o policultivo, que é uma combinação de espécies de plantas no mesmo espaço. Assim, nas roças de toco, encontra-se o cultivo de mandioca, milho, feijão trepa-paú, fava, abobora, arroz, melancia e etc.Nesse sentido, o Agente de Pastoral e Engenheiro Agrícola, Pedro Ribeiro, que tem mais de 15 anos de experiência de trabalho com as comunidades da Região Nordeste do Tocantins, diz que as famílias camponesas desenvolvem a produção de alimento num sistema de produção próprio do campesinato dessa região:
O sistema de produção, é conhecido e chamado entre outros termos como roça de toco, eu vejo como um sistema simples, mas muito bem elaborado de forma sábia e muito eficiente, em que permitir [...] numa pequena área, produzir uma quantidade significativa de alimento, em qualidade e diversidade, alimento que é a base da segurança alimentar da família e com produção de excedente, com uma maneira eficiente e segura mesmo, e que respeita e até favorece o equilíbrio do ambiente.[...] Então, essa relação dos camponeses com ambiente e o cerrado, com esse sistema da roça de toco chamada, isso pra mim, é de fundamental importância e muito rico. Porque é uma técnica simples, mas, é eficiente no sentido de garantir a produção de alimento e ao mesmo tempo preservar todo o meio ambiente, inclusive a água. Porque uma vez que você explora uma pequena área e que essa pequena área se regenera e se reconstitui, você está preservando uma área muito mais extensa, que é o cerrado maior. O espaço maior do cerrado com sua vegetação nativa, permiti o equilíbrio das nascentes e ribeirões.
Os quintais produtivos, que são as pequenas áreas ao redor da moradia, tem sido um importante espaço de produção de alimentos saudáveis e de geração de renda, especialmente para as mulheres. Encontra-se nos quintais produtivos das famílias da Tauá, uma diversidade de produção: hortas, criação de galinhas, criação de suínos, criação de patos; cultivo de ervas medicinais, cultivo de frutos e mandioca. É também o lugar, onde estão as fabricas artesanais de farinha de mandioca e o lugar do beneficiamento do arroz através dos pilões de madeira. O quintal das famílias, tem aproximadamente 2,5 hectares. E é nessa pequena área que muitas pessoas produzem o sustento da família.
Figura 6 Ervas medicinais e criação de galinha caipira
Fonte: Valéria Santos (2018)
Dos quintais produtivos, as mulheres conseguem alimentar a família e tirar renda através da comercialização da galinha caipira, o ovo caipira, a venda da massa de puba e a venda do polvilho da mandioca.
Por se tratar de áreas em conflitos, sem a segurança da posse da terra, as famílias não têm acesso a financiamentos, a transporte público e nem a energia elétrica. O acesso as políticas públicas é bem precário. Em agosto deste ano, as famílias relataram que as crianças estavam sem condição de frequentar a escola por falta de transporte e que algumas mães tiveram que ir para a cidade para possibilitar os filhos a frequentarem à escola. Quanto ao cuidado com a saúde e a nutrição das famílias, cabe destacar que isso tem sido possível por meio das ervas medicinais e da diversidade de alimentos produzidos nas roças e nos quintais.
REFERÊNCIAS
CPT – Comissão Pastoral da Terra. Justiça cega no Tocantins: moradores históricos da Gleba Tauá podem ser expulsos de suas terras. Disponível em: https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/12-noticias/conflitos/2961-justica-cega-no-tocantins-moradores-historicos-da-gleba-taua-podem-ser-expulsos-de-suas-terras. Acessado: 01 de agosto 2018.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/to/barradoouro/pesquisa/38/47001?tipo=ranking&indicador=47001. Acessado: 01 de agosto 2018.
MAFFESOLI, Michel. A conquista do presente. Natal/RN: Argos, 2001.
MIES, Maria; SHIVA, Vandana. Ecofeminismo. Lisboa: Instituto Piaget, 1993.
MDA- Ministério do Desenvolvimento Agrário. Oficio/INCRA/SR-26/OAR/Nº 42. Ouvidoria Agraria Regional: Palmas/TO, 03 de junho de 2015.
SIGNATARIO TOCANTINS. Dona Raimunda Gleba Tauá e Binotto. 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/v=sBEPREwWVZ4. Acessado em: 11/18/2017.
SHIVA, Vandana. Biopirataria, a pilhagem da natureza e do conhecimento. Petrópolis: Editora Vozes, 1997.
RIBEIRO. Pedro Antônio. Entrevisto oral concedida a Valéria Santos. Barra do Ouro, 2018.