Tanto Ailson quanto Daiane são filhos de camponeses que, embora vivendo da roça, sempre passaram por muitas dificuldades, fruto de uma cultura de desvalorização das características climáticas da região. Existe um grande estereotipo em relação a região semiárida influenciada negativamente pela mídia, educação descontextualizada e consequentemente pela falta de políticas públicas adequadas.
Essa preconcepção afeta o imaginário de todo nordestino. O casal, assim como todo camponês pobre, vivera a sua infância sendo estimulado a ir para as grandes metrópoles para ser “alguém na vida”. Mesmo com as mudanças nas políticas de convivência com o semiárido dos últimos anos e da educação contextualizada desenvolvida no município, às práticas só se tornaram possíveis com a autonomia da propriedade (compra de 8,7 há), já que antes, todas às vezes que a família de Ailson tentava inovar, os pais não aceitavam.
Quando voltou de São Paulo, Ailson vendia sua mão de obra na construção civil e com isso conseguia pagar duas pessoas para implementar as estruturas de sua propriedade, segundo ele, sempre pensando no futuro.
Foto: Claudio Dourado
Com essas estratégias, a família organizou todo o espaço da propriedade com as construções de aviário e pocilga para a criação de galinhas e porcos; aquisições de equipamentos, como chocadeira e forrageira; plantio de palma e capim elefante para a criação de caprinos e gado de leite com sua infraestrutura e; a própria moradia.
Vacas confinadas em lactação
Cabrinos de corte
Fotos: Claudio Dourado
Ailson avalia que a intensificação da seca, vivida nos últimos anos e logo a valorização do preço do leite, estimulou a família a lançar para esse novo desafio: fazer um sistema de confinamento de vacas leiteiras. Hoje, o carro chefe da propriedade, com 17 vacas a produção de leite fica em torno de 330 litros por dia. O leite é utilizado na produção de queijos, na comercialização in natura, na alimentação da família e dos animais, disponibilizado para os bezerros e soro do leite para os porcos. A família repassa o queijo para ser comercializado em Jacobina/BA.
A comercialização das galinhas é feita na feira livre e restaurantes da sede de Várzea do Poço. Além disso, a família produz hortaliças como quiabo, cebola, coentro, pimentão, alface, couve, tomate, pimenta abóbora e melancia, tudo usado para o consumo próprio.
Cisterna Calçadão
Barreiro Trincheira
Fotos: Claudio Dourado
Tudo isso só é possível graças as aguadas implantadas na propriedade, como as cisternas de consumo e de produção e o barreiro. Essas tecnologias são fundamentais para realização dessas atividades e para garantir a soberania das famílias no campo.
Outra tecnologia importante na economia familiar é o biodigestor, tecnologia social alternativa para geração de gás utilizando matéria orgânica. A família utiliza esterco de bovinos e suínos como insumos para geração de energia.
Além de dividir as tarefas entre os componentes da família, emprega duas pessoas para executar todas as tarefas na propriedade e realiza mutirões comunitários para o preparo de silagem.
Como a propriedade fica apenas 05 km da sede do município e 02 do povoado, tem facilidade de acesso, tanto de transporte como de comunicação. Na própria casa tem acesso à internet e sinal de celular.
Um dos filhos já estuda numa Escola Família Agrícola (município de Quixabeira) e o outro na Rede Municipal de Várzea do Poço. O município tem um projeto de educação chamado: a Educação que a gente quer, do jeito que a gente é! Todo voltado para essa valorização do campo.
A relação com a comunidade, as Escolas, a Associação, os Projetos Sociais da Igreja e o próprio Sindicato dos Trabalhadores Rurais, na qual é afiliado, foi possível participar de implementar uma série de ações, educativas e estruturais, para a melhoria da propriedade.