Comunidade Baniwa de Tucumã-Rupitã e a Escola Indígena Baniwa e Coripaco Pamáali (EIBC-Pamáali), Alto Rio Içana, Terra Indígena Alto Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Brasil. Foto: Irineu Laureano.
A maior parte da região é constituída por terras da União (Terras Indígenas e um Parque Nacional). A população indígena atual constitui pelo menos 90% do total, embora os mais de dois séculos de contato e comércio entre os povos nativos e os brancos tenha forçado a ida de muitos índios para o Baixo Rio Negro ou para as cidades de Manaus e Belém, bem como levado pessoas de outras origens a se estabelecerem ali. Nordestinos, paraenses e pessoas de outras partes do Brasil e do Amazonas se concentram nos poucos centros urbanos regionais.
Ao longo dos grandes rios Negro, Içana, Tiquié e Uaupés, vivem 23 etnias indígenas diferentes, grupos ligados à região há séculos. Cada uma com língua, história, cultura e costumes próprios. Os municípios que compõem a região do Rio Negro, no norte da Amazônia, contam com muitos indígenas em relação ao total da população.
De acordo com dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, em São Gabriel da Cachoeira vivem 37.896 pessoas, das quais 29.017 são indígenas. Em Santa Isabel do Rio Negro, vivem 18.146 pessoas, sendo 10.749 indígenas. Em Barcelos, das 25.718 pessoas no município, 8.367 são indígenas. Em Japurá, dos 7.326 habitantes, em 2010, 1.348 eram indígenas.
São Gabriel, por sinal, é um dos únicos municípios brasileiros que tem, além do português, duas línguas indígenas oficiais, o Tukano e o Baniwa. A força dos índios na região é tanta que, em janeiro de 2009, assumiram a prefeitura de São Gabriel um prefeito da etnia Tariano e um vice Baniwa. Um feito inédito na Amazônia e no Brasil.
Na TI Alto Rio Negro, de acordo com o censo do IBGE de 2010, o número de habitantes indígenas soma 15.183 pessoas, quase o número total de habitantes deste território. O número de pessoas não-indígenas é de apenas 102 pessoas. Entre os indígenas deste território, 48,1% são mulheres e 51,9% são homens. A faixa etária predominante nesta TI é a situada entre 25 e 49 anos, que soma 4.135 pessoas, seguido dos habitantes entre 15 e 24 anos e, depois, de 5 a 9 anos.
A maior parte dos habitantes da TI Alto Rio Negro é alfabetizada. Da população com mais de dez anos (11.140 pessoas), 8.366 são alfabetizadas e 2.774 não foram alfabetizadas. As pessoas, com mais de dez anos, consideradas sem rendimento são a maioria neste território: 9.242 pessoas. Logo depois vêm aquelas que ganham até meio salário mínimo.
Na Terra Indígena Médio Rio Negro 1, segundo o censo do IBGE, toda a população é de indígenas, somando 2.013 pessoas. Desta população, 48% são mulheres e 52% homens. Assim como na TI Alto Rio Negro, a maior parte da população tem entre 25 e 49 anos: 541 pessoas. As pessoas com 50 anos ou mais são o segundo grupo mais numeroso, seguidos daquelas entre 15 e 24 anos de idade.
No Médio Rio Negro 1, a maioria das pessoas com mais de dez anos é alfabetizada. São 1.184 habitantes alfabetizados e 288 que não tiveram alfabetização. Pessoas sem rendimento também são a maioria na TI, somando 1.097 pessoas, seguidas por aquelas que ganham entre meio e um salário mínimo.
A TI Médio Rio Negro 2 tem 1.367 indígenas. De acordo com o censo, eles representam o total de pessoas residentes no território. 44% dessa população são mulheres, e 56% são homens. Como acontece nas outras TIs da região, a maior parte dos habitantes tem entre 25 e 49 anos: são 362 pessoas nessa faixa etária. O segundo maior grupo etário inclui as pessoas de 15 a 24 anos.
Nesta TI, a maior parte da população também é alfabetizada, contabilizando um total de 845 pessoas. Os não alfabetizados somam 139 habitantes. Outra semelhança com as outras TIs é em relação à faixa de pessoas, com mais de dez anos, sem rendimento, que reúne 699 pessoas. A segunda faixa de renda mais numerosa é aquela com pessoas que ganham entre meio e um salário mínimo.
A Terra Indígena Rio Apapóris tem menos habitantes do que as anteriores e a porcentagem de indígenas representa o total da população de 349 pessoas. 51,4% delas são do sexo masculino, 48,6% são mulheres. A faixa etária com mais pessoas, como nos outros territórios, é aquela que vai de 25 a 49 anos, seguida da que conta com os habitantes entre 15 e 24 anos.
Ao contrário do que acontece com as já citadas TIs, a taxa de pessoas não alfabetizadas (173 pessoas) supera a de alfabetizados (87 habitantes). O número de habitantes da TI Rio Apapóris sem rendimento é muito maior do que aqueles que apresentaram algum rendimento. A segunda faixa de renda mais numerosa reúne as pessoas que ganham até meio salário mínimo.
Também de acordo com os dados do censo do IBGE de 2010, a TI Rio Téa tem 323 habitantes indígenas, e cinco que não se declaram nem se consideram indígenas. Da população total, 45,7% são mulheres e 54,3% são homens. As pessoas com idade entre 25 e 49 anos são as mais numerosas nesta TI, seguidas por aquelas entre 5 e 9 anos.
Do total de pessoas com mais de dez anos nessa TI, 194 são alfabetizadas, e 33 não têm alfabetização. Em relação à renda, o número de habitantes sem nenhum rendimento, que soma 188 pessoas, também é muito maior do que aqueles que têm alguma fonte de renda. O número de pessoas que ganham entre meio e um salário mínimo, a segunda faixa mais numerosa, reúne apenas 20 pessoas.
A TI Balaio, homologada mais recentemente do que as outras cinco, é a menos populosa das TIs do Alto Rio Negro homologadas: tem apenas 75 habitantes, todos eles indígenas, de acordo, também, com o Censo do IBGE de 2010. 42,7% são mulheres e 57,3% são homens. A faixa etária com mais habitantes, assim como em todas as TIs do Alto Rio Negro é a que vai de 25 a 49 anos. As pessoas com mais de 50 anos são o segundo grupo mais numeroso nesta TI.
As pessoas com mais de dez anos na TI Balaio são, em geral, alfabetizadas. 56 habitantes são alfabetizados, ao contrário dos sete que não possuem alfabetização. O número de pessoas com mais de dez anos de idade sem rendimento também é maior neste território (47 pessoas), seguido pelas pessoas que ganham entre meio e um salário mínimo, 12 habitantes.
No alto e médio Rio Negro, vivem 22 povos indígenas, falantes das línguas Tukano Oriental, Aruak e Maku. As etnias que habitam a região apresentam diferenças entre si, mesmo que apenas em alguns aspectos. Alguns dos pontos em comum incluem os mitos, as atividades de subsistência, a arquitetura tradicional e cultura material. As similaridades são mais presentes entre os grupos Tukano Oriental e Aruak. Por habitarem as margens dos rios, são conhecidos como “povos do rio”. Os Maku são chamados de “povos da floresta”, por ocuparem, principalmente, o interior da mata.
O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro é entendido como um conjunto de saberes e práticas das técnicas de manejo dos espaços de cultivo (roça e quintais); do sistema alimentar; dos utensílios de processamento e armazenamento; e, por fim, da conformação de redes sociais de troca de sementes e plantas que se estende de Manaus, no Amazonas, à Mitu, na Amazônia Colombiana. O cultivo da mandioca brava, por meio da técnica de queima, plantio e manejo de capoeiras (conhecido como coivara), é a base desse sistema, compartilhado por mais de 20 povos indígenas da região.
Roça da Dona Amélia (Tuyuka).
Comunidade São Pedro, Alto Rio Tiquié, Terra Indígena Alto Rio Negro, Amazonas, Brasil. Foto: Beto Ricardo/ISA.