Após a titulação do território, muitos foram os avanços obtidos pela comunidade. Os quilombolas tiveram acesso a energia elétrica por meio do programa do governo federal Luz pra Todos, além de terem conseguido água encanada nas casas, com o apoio do governo do estado do Pará. Moradores da localidade avaliam que o fato de serem quilombolas com o título da terra acelerou o processo de implementação desses programas.
Mais recentemente, acessaram o programa de habitação do governo federal Minha Casa, Minha Vida, que atua com regras diferenciadas para facilitar ao acesso de indígenas, quilombolas e comunidades rurais.
Um avanço particular que ocorreu na comunidade antes mesmo da titulação do território, com a formação das associações comunitárias, foi o amplo envolvimento das mulheres nas atividades políticas cotidianas do quilombo, o que as empoderou, contribuindo na luta por igualdade de gênero. Conforme relata Janete Tavares Galiza:“A maioria que participa de assembleias, reuniões e encontros são mulheres. Se você chega aqui em dia de assembleia, você chega lá, 70% de quem tá dentro da sala pra discutir problemas da comunidade é mulher.”
Janete Tavares Galiza. Foto: Carlos Penteado.
Contudo, dificuldades e desafios persistem mesmo após a titulação da área. No âmbito da educação, a falta de infraestrutura e de merenda escolar na escola municipal de Guajará Mirim é a principal queixa dos quilombolas da região. Outra queixa é o fato de não ter escola com Ensino Médio mais próxima do quilombo. Segundo Janete:“O nosso ensino, a nossa educação aqui, é uma tristeza. Nós estamos em dez de novembro hoje e a merenda escolar só veio uma vez. E o ano já vai acabar. [...] Resumindo: a escola tá aí abandonada, a associação que já mandou trocar a lajota e roçar o quintal, merenda não tem, veio uma vez no ano, transporte precário pra levar pra uma outra comunidade, Boa Vista, que vai até o Ensino Médio.”
Embora tenham tido acesso a programas de geração de renda do governo do estado do Pará, outro grande desafio diz respeito à falta de assistência técnica continuada como parte de tais programas. Por meio de programas específicos do governo do estado do Pará, os quilombolas tiveram acesso a novas possibilidades de geração de renda em Guajará Mirim, tais como apicultura, aviário, produção de priprioca, dentre outros. Contudo, Luis Magno, membro da associação local, conta que, por falta de suporte técnico continuado, os projetos acabaram antes mesmo de serem efetivamente estruturados na comunidade.
Por fim, um último desafio, apontado pelo jovem quilombola Valdo Galiza Teles, diz respeito à falta de opções de lazer para os jovens dentro da comunidade. Há algum tempo, existiam grupos de dança afro, formados por jovens, no interior da comunidade, que mobilizava boa parte da juventude nos ensaios e apresentações externas, sob o incentivo do governo estadual. Atualmente, esses grupos acabaram, e as atividades de lazer ficam limitadas ao futebol. Nas palavras de Valdo: “Ninguém quer só trabalho, jovem quer lazer também. E a maior dificuldade aqui é isso. É uma ocupação pro jovem na área do lazer. Porque ajuda o pai, apanha o açaí, trabalha... quando chega na hora do lazer, a gente tem que inventar. A gente joga futebol e pronto, acabou.”