A história do Assentamento Oziel é um bom exemplo de como funciona a Reforma Agrária no Brasil. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é o movimento social dedicado a organizar a luta pela reforma agrária que mais camponeses reúne. Segundo Erllan, se os camponeses querem uma determinada fazenda, a estratégia é não ocupá-la, mas sim ocupar uma fazenda próxima. O governo quase nunca aceita a desapropriação da mesma área ocupada pelos camponeses. Desta forma, ocupar as margens de uma fazenda próxima, para o MST, ajuda a pressionar para logo negociar a área que o Movimento realmente deseja que seja destinada à reforma agrária. Porém, muitas vezes os camponeses passam longos anos nestes acampamentos, apertados entre a cerca da fazenda e as rodovias.
"Eu passei oito anos acampado com o MST antes da gente ser assentado aqui no Oziel. Passei por vários acampamentos, até que a gente decidiu não esperar mais e acampar dentro do INCRA em Goiânia. A gente só ia sair de lá com a terra e foi assim que conseguimos a desapropriação do Oziel ". (Sr. Firmino Moreno Martins, conhecido como Tio Nego, ex-dirigente regional do MST e morador do Assentamento Oziel Pereira)
O acampamento dentro da área do INCRA em Goiânia, capital do estado, foi uma ação história do MST e também reflete o funcionamento do processo da reforma agrária no país. O MST reuniu oito acampamentos de várias cidades como Jataí, Goiânia, Catalão, Itumbiara, Itaberaí, Doverlândia, todas as partes do estado na porta do INCRA, com mais de 500 famílias e quase 2 mil pessoas. Todas eram oriundos de acampamentos que esperavam a reforma agrária há vários anos e permaneciam espremidos em corredores às margens das rodovias no estado. Foram um ano e oito meses de acampamento, reuniões, negociações e muitas dificuldades para que os camponeses finalmente fossem assentados. Após a definição de que a Fazenda Bandeirante, em Baliza, seria desapropriada para atender a demanda dos camponeses, eles foram levados a um acampamento provisório, num corredor já dentro da área. Mas não podiam plantar e caçar. A situação de penúria durou um ano e meio, conta o Sr. Nego. Neste tempo, os camponeses viveram de doações que vinham de outros assentamentos do MST.
Após este período, os lotes foram finalmente cortados e entregues aos camponeses. Porém, ainda hoje há famílias que, apesar de participar da demanda desde o início, não possuem qualquer documento de posse da terra.
"Eu estou dentro da área desde que viemos pra cá. Mas o INCRA enrola meu cadastro até hoje. Cada dia é um problema novo. Assim tenho que viver aqui dentro para garantir meu pedaço de terra, mas não tenho documento e por isso não posso receber nenhum auxílio. Não recebi o crédito para comprar ferramentas, para produzir, para construir casa, não posso pegar financiamento no banco, não posso fazer nada. Tudo o que tem aqui eu e meus filhos construímos no braço, na foice, na enxada. E o pior de tudo é que nem sabemos quando vai resolver isso". (Maria Floripa, camponesa que vive no Assentamento Oziel há mais de dez anos).
Outros como o Senhor Anacleto da Costa, de 62 anos, chegaram depois que a área já havia sido divida e ocuparam um lote abandonado por outra família, realizaram o cadastro do INCRA, mas a situação ainda continua indefinida:
"Eu fiquei 10 anos no acampamento. Foi em 2002 o primeiro acampamento aqui, do MST. O povo aqui tava pré-assentado. Este foi o 1º acampamento que nos veio. Ai nós saiu daqui, ficou acampado 4 anos lá na Formiga, depois mais 3 anos lá no Paraíso, ai eu enjoei e sai uns tempo, depois voltei de novo. Ai o meu genro chamou a gente pra vir ajudar no lote deles. Só que este lote onde nós estamos tava abandonado. Eu perguntei os morador daqui e todo mundo me deu apoio, disseram que eu podia entrar no lote. Aí eu pensei: sabe de uma coisa, eu vou entrar para dentro desse lote, e estou aqui. Ai um já veio aqui um funcionário do INCRA, arrumou os papel nosso, mas ainda falta papel pra arrumar".
A família de Erllan Luis Souza Faria já tem o Termo de Concessão de Uso, mas a situação ainda é precária: "Me considero acampado há seis anos porque nós temos luz, tem água, porém nós moramos até hoje em barraco de lona porque não saiu benefício. Há quatro meses somente tenho TCU. Já está homologado, não tenho o papel, mas já está homologado".
Ainda hoje há pessoas sem qualquer documento da terra, sem o Termo de Concessão de Uso e que nunca receberam nenhum auxílio do governo. Tampouco há qualquer assessoria técnica ou formação por parte do INCRA. Apenas o SENAR ofereceu alguns cursos para cuidado bovino.
A estratégia adotada pelo MST se baseia, principalmente, na pressão ao governo e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Ainda hoje esta é a estratégia utilizada e periodicamente os coordenadores do Assentamento precisam se deslocar até a capital do estado, a 400 Km de distância, para entregar solicitações ao órgão. Os camponeses relatam que apesar de ter um técnico destinado a resolver os problemas do Assentamento in locu, o funcionário aparece raras vezes.
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