Atualmente, os moradores do Assentamento Oziel Pereira estão desenvolvendo várias ações no sentido de recuperar a área, que foi bastante degradada por anos e anos de criação de gado. Entre 2006 e 2007, com o apoio do INCRA, da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ministério do Desenvolvimento Agrário e MST, foi desenvolvido o Projeto Educação Ambiental e Recuperação de Áreas degradadas, que recuperou áreas devastadas pela erosão e também trabalhou com o retardamento deste processo.
Em 2015, o Assentamento se prepara para outro projeto na área ambiental. Mais uma vez com o apoio da UFG, as camponesas vão preparar um projeto de recuperação das matas ciliares, visando a proteção das nascentes de água da área. Segundo Erllan Luis, um dos objetivos dos assentados é preservar a área de reserva do Assentamento e concluir um projeto de recuperação das nascentes – já que elas se encontram nas áreas de reserva.
Atualmente, os camponeses não produzem coletivamente. Porém, no passado houve uma cooperativa de farinha, uma horta comunitária e outros cultivos que os camponeses esperam reabilitar em breve. Os camponeses também tentaram formar uma Cooperativa:
“No início tentamos formar uma cooperativa, mas não deu certo. As pessoas tem medo de formar Cooperativa” (Erllan Luis Souza Faria, assentado na área).
“Não entendo isso ai, eu faço tudo sozinho. Eles falaram em montar uma cooperativa mas acho que não fizeram nada ainda. Do INCRA não tivemos nenhuma ajuda até hoje” (Anacleto Santano da Costa, assentado na área).
Segundo os camponeses houve pouca assistência técnica do INCRA e de outros órgãos e institutos que deveriam fazê-lo.
Porém, se o Assentamento Oziel Pereira é deficiente em algumas questões, em outras está muito à frente da maior parte dos assentamentos do país. Uma delas é o acesso à educação e cultura. Além das escolas, o Assentamento tem um telecentro, com computadores e acesso à internet com banda larga, que foi aberto ao público em 2005. Em 2012 foi realizado um curso técnico em agropecuária . Agora, as famílias desejam que os cursos técnicos sejam ofertados de forma permanente no Assentamento.
Em breve o Assentamento Oziel Pereira vai receber uma agro indústria, um laticínio. As obras devem começar este ano e em dois anos o laticínio deve estar concluído. Erllan explica que é uma demanda antiga dos camponeses:
“Mais ou menos daqui dois anos, vamos poder captar leite, resfriar, poder fazer todo tipo de derivados (queijo, iogurte, etc.). Foi um programa do governo, é uma pauta enferrujada de mais de 13 anos de marcha, que a gente vem pedindo a agroindústria. Foi aprovada há dois anos a agroindústria dentro dos assentamento. Já temos a cooperativa aberta dos assentamentos. Ela foi aberta com 20 membros, mas está em aberto para a entrada de novos cooperados. A ideia inicial é que sejam 300 sócios, no mínimo. Não vai ser uma cooperativa só do assentamento Oziel, vai ser a nível do estado, vai servir pros 19 assentamentos de Doverlândia”.
Com o laticínio, os camponeses poderão ter mais independência, pois hoje o preço é definido pelas empresas.
A grande dificuldade relatada por todos os camponeses é a ausência de uma estrada. O Assentamento está a quase 40km distante da cidade de Baliza e Doverlândia e as estradas em mau estado de conservação dificultam quase todas as atividades no local.
“Não tem como fazer nada aqui porque não tem estrada boa. Agora está bom porque é época da seca, quando for o tempo das águas, aqui tudo atola, não passa carro. Do que a gente precisa? De estrada, de asfalto. Aí melhorava muito o Assentamento. Vai ter o laticínio, mas não sei como fazer sem estrada, sem ponte”. (Firmino Moreno Martins, assentado).
Atualmente, a maior produção dos camponeses é de leite, mandioca, abacaxi, abóbora, melancia, hortaliças, morango e fabricação de doces. O leite é vendido para os laticínios da região, que se encarregam de buscá-lo no Assentamento. Os outros alimentos são fornecidos ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)[1], Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)[2] ou vendidos diretamente à população local.
“Eu faço queijos e requeijão e vou juntando. Uma vez por mês mais ou menos eu vou até a cidade para vender. Quando vem alguém aqui também leva. Eu consigo tirar uns R$500 por mês só assim. Para a gente é melhor do que tirar o leite e entregar pro laticínio”, explica Margarida Gonçalves Martins, que vive há mais de dez anos no Assentamento.
“Aqui a falta de estrada dificulta para gente. Mas eu tenho um carrinho e vou para cidade uma vez por mês porque é muito longe. Vendo principalmente coisas da minha horta, alface, couve, vendo farinha também e tudo mais que tiver. Vendo tudo na rua, em duas horas já vendi tudo e volto com as comprinhas do que a gente não tem no sítio para casa”, explica Anacleto Santano da Costa, que vive há seis anos no Assentamento.
A grande demanda dos camponeses hoje para melhorar as vendas é a melhoria das estradas do Assentamento.
Os camponeses do Assentamento Oziel seguem práticas tradicionais de plantio e criação de animais. O gado é criado solto no pasto, em criação extensiva. O leite também é ordenhado manualmente. A mandioca, um dos alimentos mais produzidos pelos camponeses, é toda plantada e beneficiada manualmente.
“Acho que a forma como produzimos vem do povo antigo, derrubada, era tudo manual, vem dos antepassados, era tudo mais natural. E hoje também tem incentivo dentro do programa de Reforma Agrária. Assim a gente quase não usa nada químico. Usamos o próprio mato para adubar. A maioria da produção é orgânica, não usam muito veneno, por opção. Nós brigamos contra os latifundiários por causa da química, então se nós usarmos não adianta a nossa luta” (Erllan Luis Souza Faria, assentado na área).
[1] O PAA é um programa do Governo Federal de combate à pobreza e de fortalecimento da agricultura familiar. O programa permite a compra antecipada diretamente dos agricultores familiares, assentados e demais povos do campo para formação de estoque e distribuição à população em maior vulnerabilidade social, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
[2] O PNAE é o Programa Nacional de Alimentação Escolar e foi instituído em 1995 e garante a alimentação escolar. No PNAE, as escolas têm de destinar 30% da aquisição dos alimentos da merenda escolar a agricultores familiares.