Os frutos da Revolução Agrária
Hoje o Assentamento Canaã é uma das áreas mais produtivas de Rondônia. Mesmo trabalhando com poucos máquinas, os camponeses conseguiram ampliar consideravelmente a produção. A área é o maior produtor de bananas do estado de Rondônia.
Banana eu tenho pouco, tenho 1.200 pés, mas tem vizinho aí que tem mais de 2, 3 mil pés de banana. Eu tenho 4 mil pés de cafés plantados aqui, isso vai dar umas 60 sacas de café. E esse café é bom, é de um tipo muito especial, sem defeito, não tem broca. Eu colho na época certa para manter a boa qualidade e o bom preço. (Arlindo Souza, Assentamento Canaã)
Além de banana, os camponeses também produzem café, cacau, arroz, milho e leite. Todos estes gêneros são produzidos de forma a gerar algum excedente e são vendidos para as cidades próximas, principalmente Jaru e Ariquemes.
Minha lavoura de cacau é o amor da minha vida porque é dela que eu sobrevivo. Eu tenho cerca de 1.500 pés de cacau. Eu vendo minha produção para Jaru. O cacau é uma planta fixa e também é reflorestamento, nós estamos cuidando da Amazônia. ( Otávio Gonçalves da Silva, vive na área há mais de 10 anos)
É um ajudando o outro
No Assentamento Canaã os camponeses estão organizados, principalmente, pela Assembleia. É nela que tomam as decisões mais importantes que recaem sobre a vida de todos os camponeses. A Assembleia é realizada a cada 15 ou 30 dias e, dependendo da necessidade, pode ser convocada a qualquer momento. A Assembleia é o momento da construção coletiva das respostas aos problemas diários da área.
Além da Assembleia, num nível mais estrutural, os camponeses estão organizados na Asprocan, a Associação dos Produtores do Canaã. A Associação tem como finalidade organizar e representar os camponeses nas demandas materiais da área. Através da Associação, os camponeses possuem alguns maquinários pesados, como tratores, uma máquina de beneficiar arroz, e que são usados coletivamente.
Mesmo que não exista grupos de trabalho coletivo permanente, este tipo de trabalho é muito comum entre os camponeses e está ligado à própria concepção de vida solidária desenvolvida por eles.
Ainda há o céu para conquistar
Há 13 anos na área, grande parte dos camponeses estão relativamente estabelecidos, apesar das constantes ameaças de despejo. As famílias tem uma produção ambudante, casas construídas, currais, instrumentos de trabalho e já se estabeleceram como provedores de alimentos no comércio local.
Dos sete anos que estou aqui, uns tre?s anos foi bem difi?cil. Bem complicado. No?s encaremo mala?ria aqui... a estrada, na?o tinha estrada. Devagarzinho foi conseguindo. Na?o tinha transporte escolar. O o?nibus que faz a linha fazia so? uma vez por semana, hoje faz tre?s vezes por semana. Tem va?rios carros que va?o sair, Aqui dentro eu fui tirar gente aqui... machucado aqui, que foi trabalhar mas se acidentou. Tive que sair tre?s numa moto ate? que conseguiu um carro pra poder sair pra fora. E ai? tudo a gente passa por essa dificuldade. Isso ai? e? quando. Ai? quando aperta que as coisas na?o... no comec?o que eu vim pra ca?, na?o tinha renda. Ai? tinha que trabalhar dois dias pra gente, tre?s pro outro, pra poder ir mantendo ne?... mas agora esses dois anos pra ca?, foi uma luta difi?cil, mas eu to? muito feliz de ta? nessa luta... porque hoje eu considero um cidada?o rico. Porque pelo... eu na?o tinha nada, hoje ja? tenho um pedac?o de terra, e eu considero que to? feliz da vida (Alexandre vive com sua família há sete anos no Assentamento Canaã).
Atualmente, além da necessidade premente de garantir a posse e a legalização da área, o grande desafio dos camponeses é a melhoria das estradas que ligam o Assentamento à cidade. Como as estradas não têm a devida manutenção por parte da administração local, os camponeses vêem afetados seu direito de ir e vir, o escoamento da produção, a ida dos filhos à escola e até o atendimento médico.