Por volta dos anos de 1970 com o avanço do capitalismo no campo, os trabalhadores e trabalhadoras Rurais foram obrigados a deixarem a terra e migraram para as periferias das grandes cidades e vilas, formando um grande contingente de assalariados rurais e subempregados vivendo em condições precárias e subumanas.
Na tentativa de buscar saída para mudar a realidade que ora viviam, começaram a se organizar em grupos para discutirem quais as formas de se exigir do governo o cumprimento da lei estabelecida em relação à Reforma Agrária, através do Estatuto da Terra.
Em 1984 surgiram os primeiros assentamentos de Trabalhadores Rurais do Espírito Santo. A forma da conquista da terra ocorreu através de reivindicação e negociação entre os Sindicatos (Combativos) e o governo do estado via secretaria da agricultura. Estes Assentamentos se localizavam no norte do estado. Antes de serem assentados, os trabalhadores já debatiam pontos importantes em relação à organização da comunidade entre eles a educação.
Eram homens e mulheres de mãos calejadas, com o olhar sempre voltado para o horizonte real, mas ainda distante, que começava a discutir o acesso à terra. Naquela época o termo Reforma Agrária, Emprego e Justiça ainda não estavam tão badalados no íntimo destes bravos guerreiros, mas motivados pelo sindicato dos trabalhadores Rurais, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Igrejas (CEBs) e o então nascente Movimento dos Sem Terra (MST), os trabalhadores e trabalhadoras rurais viram a possibilidade de construção de uma nova história que marcou a década de 80, especificamente o norte do estado do Espírito Santo: a luta pela Reforma Agrária. O meio rural capixaba jamais seria o mesmo. A concretização veio forma lenta, mas gradualmente foi demarcando o seu espaço, ocupando vários pontos do Norte do Estado: Jaguaré, São Mateus, Pedro Canário, Pinheiros, Nova Venécia e assim por diante.
Na madrugada calma e fria do dia 22 de setembro de 1986, 650 famílias provenientes dos municípios do norte do estado, com grande determinação, levando no rosto o desejo ardente e o grito que ecoava pela região - “REFORMA AGRÁRIA JÁ, TERRA PARA QUEM NELA TRABALHA”, acontecia uma grande ocupação, na fazenda Fonibra no km 41 (município de São Mateus) realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem terra – MST.
No final de 1986 e início de 1987, aguardando a emissão de posse de áreas já desapropriadas pelo governo, os trabalhadores e trabalhadoras organizados e com apoio de muitas comunidades e entidades simpatizantes desta luta, teve que se dividir, pela grande quantidade de acampados e capacidade de suporte das fazendas abaixo da demanda, dando origem aos assentamentos Pip-Nuck, localizado em Nova Venécia, Rio Quartel em Linhares e mais tarde, o Assentamento Castro Alves – Pedro Canário.
Neste período da história, várias famílias foram deslocadas para as margens da Rodovia que liga Pedro Canário à Nanuque/Cristal do Norte. Vale salientar que as demais famílias ficaram esperando para serem assentadas no município de São Mateus, e permaneceram acampadas no km 41, onde se localiza o atual Assentamento Pratinha.
Na madrugada de 04 de dezembro de 1987, cerca de 400 famílias ocuparam a Fazenda Escardine, em Nova Venécia. Houve confronto com o batalhão local, várias famílias ficaram detidas nas delegacias municipais e muitos transtornos aconteceram. No entanto, todo esse barulho repressivo não foi suficiente para tirar dos trabalhadores e trabalhadoras o desejo de conquistar a terra. Continuaram organizados e com o mesmo ânimo. Nesse momento, já acampados ao lado da Fazenda Castro Alves, a qual só criava gado - o assentamento manteve-se com o mesmo nome.
O Assentamento Castro Alves é a concretização dessa reforma agrária como viabilidade e permanência do homem do campo. A trajetória de vida desses trabalhadores rurais sempre marcada por grandes desafios, uma constante luta pela terra, pela sobrevivência e pela educação.
A repressão política e policial ocorria a todo o momento. Com o sonho já perto de se tornar real, em 25 de abril de 1988, foi publicado no Diário Oficial a emissão de posse para os sem terra. E em 03 de Maio de 1988 numa área de 1.503,4 hectares sobre o qual foi desapropriado pelo INCRA, e criado imediatamente o projeto de Assentamento. Os trabalhadores e trabalhadoras vibraram de alegria, pois tinham conquistado a terra. Dando prosseguimento à batalha os trabalhadores (as), organizados pelo MST, acampados e militantes da Reforma Agrária com ferramentas de trabalho, entre elas foice, facões e enxadas, derrubaram a cerca de mais um latifúndio e plantaram a bandeira da Reforma Agrária: a histórica bandeira vermelha que os acompanha através das constantes lutas contribui na concretização de parte de seus sonhos.
No acampamento as famílias se organizavam em grupos para construção de barracas, vigília, etc., os acampados tinham visão de trabalho coletivo. Depois que passou a ser assentamento estavam bem organizados. O processo de transição para o assentamento foi com muita alegria. chegaram à meia noite, uns ajudando os outros e passaram a morar em barracos à beira de córregos e de estradas. A área era formada de matas e pastagens, a situação era difícil porque não tinham moradas fixas e ainda não tinham lavouras.
Por entender que a Reforma Agrária não é só o acesso à terra, mas sim um conjunto de medidas que garante vida digna, farta, saúde, educação, crédito e a verdadeira transformação social, os Sem Terra continuaram firmes e irmanados no trabalho. Ainda em 1988 com o novo jeito de compreender a educação dos filhos começaram as aulas de 1ª a 4ª séries, todas as crianças na escola, com muita dificuldade, pela falta de estrutura física e vontade política dos governantes, mas não desistiram. Os sem terra sofreram muitas ameaças, mas continuaram firmes, organizaram as comissões internas e debaixo de uma barraca de lona preta e palha, iniciaram as aulas às crianças acampadas, marcando o início da educação em quatro Escolas de 1ª a 4ª séries. Sendo “Che Guevara, Canudos, Zumbi dos Palmares e Coluna Prestes”, sendo que a última foi desativada em dezembro de 1999, por haver poucas crianças na localidade.
Percebendo a importância da produção organizada, em 02 de abril de 1989, aconteceu a fundação da Associação dos Produtores Rurais do Assentamento Três de Maio, sendo a primeira organização interna que representaria seus assentados.
Em 1993, já possuindo as Escolas primárias, percebendo que os filhos cresciam e não mais podiam continuar estudando a série anterior, foi criada a EEEF “Três de Maio II” para atender as series finais do Ensino Fundamental. Dessa forma foram realizadas amplas discussões de avaliação e planejamento, pois precisavam de uma escola com o primeiro grau completo, dando continuidade a um grande desafio: o de construir uma escola com estrutura descente em que educandos, educadores, pais e comunidade pudessem se sentir orgulhosos, pois, nos acampamento e assentamentos, a escola continua sendo de fato, um direito de todos (na lei ou na marra).
De posse dessas convicções, os anos 1995 a 1997 foram marcantes, pois o MST surpreendeu mais uma vez ao constatar que nas escolas havia muitos técnicos em agropecuária vindos de Escolas Famílias e que o sistema educacional proposto pelas escolas dos assentamentos iam além do tecnicismo. Além de trabalhar a terra, era preciso pensar a terra, as estruturas sociais, políticas, econômicas, geográficas, coloniais, culturais enfim, uma educação integral, conduzida pelos professores assentados e/ou ligados direta e/ou indiretamente aos ideais do MST. Foi pensando assim, que surgiu a 1a turma do Magistério Rural. Os professores das Escolas dos Assentamentos estavam fazendo o curso de formação para ampliar a sua atuação e desse modo, resolver uma velha questão: a qualificação educacional do professor e da professora do Assentamento. Portanto, foi implantado esse curso no CIDAP no ano de (1998). Dando continuidade à realização dos sonhos de Reforma Agrária, no dia 19 de janeiro de 1997, foi realizada a fundação da 1º Cooperativa Regional de Reforma Agrária e Desenvolvimento Agropecuário, COOPLANTE, também neste período chega a energia elétrica como projeto para todos.
Durante todo o período aconteceram muitas jornadas de lutas, ocupações na Sede do INCRA e em fazendas improdutivas, manifestações, caminhadas, romarias, greve de fome, Marchas pela Reforma Agrária, emprego e justiça. A luta seguia adiante. Ao mesmo tempo, a terra era banhada pelo sangue de bravos e importantes companheiros sindicalistas, militantes do PT, que por defender a luta por reforma agrária, foram covardemente assassinados por jagunços e pistoleiros, a mando de grupos de fazendeiros da região norte. Foram assassinados Valdício Barbosa (Léo) – Pedro Canário, Paulo Vinhas – Linhares, Verino Sossai – Montanha e Francisco Domingos Ramos – Pancas, mas com certeza continuaram presentes na vontade de transformação, na defesa da democracia, na luta pela liberdade, na justiça social, na distribuição de renda e na reforma agrária. Conseguiram a terra, embora algumas lideranças tiveram que doar sua própria vida.
De 1997 a 2000 acessam os créditos, proporcionando aos assentados mais garantia de melhoria de vida chega a energia elétrica, mas também junto ao credito a inadimplência. A Cooplante não foi à frente, afetando as expectativas dos assentados, que objetivava garantir e fortalecer a organização da produção e comercialização agrícola.
Ainda no ano de 2000 o MST com sua ousadia revolucionária implantou o curso de 3º grau - Pedagogia da Terra, para educadores/as de assentamentos de diversos Estados: ES, RN, MG, SE e BA. No início de 2003 a 2º turma é novamente organizada, com intuito de prosseguir a luta pedagógica com melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem dos agricultores/as, sendo que esta turma contou com a participação de outras entidades importantes como o Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, as Escolas Comunitárias, o Movimento Promocional do Espírito Santo - MEPES e a Comissão Pastoral da Terra – CPT.
Como as crianças entre 04 a 06 anos não poderiam ficar de fora, em 2002 foi implantado, no assentamento, 02 turmas da Educação Infantil, em parceria com a Prefeitura Municipal e comunidade local, também foi criado o curso de suplência de 5º a 8º séries. “Em 2007, criou o Pólo Três de Maio” juntando os educandos das três escolas em “Canudos”.
Atualmente, algumas famílias consideram que a atual organização do assentamento está boa, porque ocorreram mudanças como a construção de casas, escola de qualidade, além de outras infraestruturas. Por outro lado, aumenta o individualismo e a desorganização. Assim, o assentamento precisa melhorar a condição de trabalho, colaboração, atividades para os jovens, respeito e convívio com as pessoas, agricultura familiar, telefone e recuperação de máquinas. Percebemos que nestes últimos anos algumas famílias, estão se mobilizando em grupos para produzir, comercializar e criando novas associações, exemplo do grupo de mulheres que teve a premiação "Mulheres que produzem Brasil sustentável".
Nestes 30 anos de conquista do Assentamento temos uma população de 775 habitantes, no qual habitam em 254 moradias, mas apenas 125 famílias são cadastradas). Percebemos que muitas coisas melhoraram, vejamos que a produção tem si diversificado mais, mas predomina o café e a pimenta do reino, envolvendo mais de 100 famílias, mas carecem de aspectos organizativos e produtivos. No campo político estamos nos sentindo abandonados, desde do poder público local ao Nacional.