A Educação no Assentamento Castro Alves começou em barracos de lona preta na beira da estrada, sendo ainda acampamento. Em três de maio de 1988, sai a posse da terra e o povo vão para suas áreas definitivas. Devido à distância das residências das famílias, a comunidade é dividida em (04) quatro grupos denominados: Córrego do Engano, Córrego do Meio, Sede e Córrego do Jacuba. Cada grupo desses tinha uma Escola, com os seguintes nomes: Córrego do Engano EP “ Três de Maio I ” ; EP “ Três de Maio II “ Córrego do Meio; EP Três de Maio” III, na Sede e EP “ Três de Maio” IV no Córrego do Jacuba. Com esses nomes ficava complicado para o Subnúcleo de Educação distinguir cada uma na parte administrativa, foi proposto pelo Superintendente Senhor Rainério que mudassem o nome destas Escolas, e assim discutimos em Assembléia com a Comunidade e, e foi aceito a substituição dos nomes passando a se chamara: EP “Che Guevara”; EP “ Zumbi dos Palmares”; EP “ Canudos”; e EP “Coluna Prestes” e a EPG “Três de Maio” ficaria atendendo os Educandos de 5ª a 8ª séries, que já trabalhavam com a Proposta Pedagógica da Pedagogia da Alternância.
A Escola Três de Maio, que atende os educandos de 5ª a 8ª séries iniciou em 1993, no Governo de Itamar Franco, que assumiu após o impeachment de Fernando Collor de Melo, eleito presidente pelo voto direto após o Regime Militar. Esta continuidade dos estudos dos filhos de Assentados foi mais uma conquista de muita luta e persistência de algumas famílias e Setor de Educação do MST. Era o desejo de muitos pais que queriam que desse continuidade aos estudos de seus filhos e que fosse no próprio assentamento, uma vez que no mesmo só atendia de 1ª a 4ª séries.
O MST apresenta a proposta de educação, sendo está desenvolvendo a Proposta Pedagógica da Pedagogia Alternância, na qual já estava em execução, por outras Escolas de Assentamento no Espírito Santo e a comunidade aceitou.
Em seguida vieram a discussão onde funcionar, pois até o momento não tinha nenhum prédio escolar disponível. A primeira proposta era de funcionar na Sede do Assentamento, mas o espaço era pequeno e já era ocupado por duas turmas de 1ª a 4ª séries. A comunidade volta a discutir com o Setor de Educação do MST, e juntos concordam em funcionar na localidade denominada Córrego do Meio, pois assim facilitava o acesso para todos os educandos. Neste local tinha uma sala de 50 m² com cozinha e 2 banheiros, que já atendia os educandos de 1ª a 4ª séries. Neste local tinha disponível um galpão para armazenamento de cereais (que não funcionava) e uma igrejinha de estuque. Como a educação é prioridade para comunidade, decidiram começar as atividades nestes locais, com as turmas de 5ª a 7ª séries. E no ano seguinte 1994, iniciou a 1ª turma de 8ª série, mesmo com número pequeno 03 (três) educandos.
Para iniciação da proposta pedagógica do MST, foi elaborada em 1988 o Projeto de Educação das Escolas de Assentamentos, sendo desenvolvido e avaliado num período de 10 anos. Sendo o mesmo aprovado pela SEDU.
Após muitas reivindicações da comunidade para construção do prédio escolar o Governo Estadual iniciou uma obra de 300m², mas no ano seguinte foi paralisada ficando somente na base. Então a Comunidade decidiu que a Escola de Alternância deveria ser construída numa área de 20.000 m² destinada a INCAPER, que posteriormente foi doada para a EEEF “Três de Maio” que construiu duas salas, sendo uma de 7 x 6m², e outra de 7 x 5 m com dois banheiros uma cozinha e refeitório para atender a necessidade dos educandos. Esta construção foi feita em parceria com a comunidade, subnúcleo de Educação e Prefeitura Municipal de Pedro Canário.
Em 2002, as escolas tiveram mudanças no nome. As escolas primárias passaram de Escolas Pluridocente para Escola Estadual Pluridocente de Ensino Fundamental, e a que atendiam 5ª a 8ª era Escola de 1º Grau, passou a ser chamada Escola Estadual de Ensino Fundamental. Em 2006 a “Três de Maio” junto às outras Escolas se torna o Pólo 2, abrangendo as Escolas “Canudos”, “Che Guevara”. Através dessa junção veio a conquista da coordenação e contratação de uma secretária escolar para atender as necessidades de todas as escolas acima citadas.
Em 2008, em mobilização dos Sem Terrinha, fizeram uma ocupação à Prefeitura Municipal de Pedro Canário, com uma pauta de reivindicação e nesta pauta garantimos a construção do Centro de Educação Infantil, que atende a duas turmas de Pré I e Pré II.
Mas a luta pela educação não para por aí, perceberam a necessidade de juntar todas estas salas separadas em um único espaço. A precariedade dos outros prédios escolares forçava a unificação das escolas. Em caráter de urgência, no ano de 2010 tiveram que juntar todas as turmas. Mas, unificaram antes da construção, que permaneceu na planta até 2016.
Os educandos em sua maioria 95% residem no Assentamento, os outros são de fazendas próximas ao Assentamento e comunidade Carapina. Observando as questões sociais das famílias, detectamos que 98 educandos são beneficiários do programa Bolsa Família, que contribuem bastante com as famílias. Outra realidade deste educandos e que os que vivem em fazendas, seus pais são empregados diaristas e os filhos praticamente não tem atividades com o campo, pois não tem a posse da terra.
A luta e a persistência das famílias e comunidade em avançarmos no processo educacional da nossa comunidade, sentíamos lutando e conquistando aos poucos a nossa educação, mas a luta não pode parar, pois precisamos realizar muitas ações para mantermos no campo com uma educação de melhor qualidade e modalidade.
Atualmente, a escola é muito bem vista pela comunidade e circunvizinhanças. Ela consegue dá visibilidade na educação do campo em meio à monocultura da cana de açúcar e eucalipto e ainda se destacar como uma das melhores escolas do município e principalmente do campo e oferta o ensino da modalidade da Educação Infantil ao 9º ano do Ensino Fundamental, atendendo a 153 crianças e adolescentes, sendo que 94% desse público são moradores do próprio Assentamento, os outros 6% são filhos de empregados de fazendas vizinhas.
Mesmo sendo, todos os moradores oriundos do campo, acostumados a lidar com a agropecuária, como empregados e ao conquistar seu pedaço de terra, alguns não se adaptaram ao tempo do plantio e colheita, pois as necessidades básicas eram bem maior. Com isso, muitos abandonaram e repassaram seus lotes, ou voltaram a trabalhar em fazendas na diária. Outro aspecto cultural importante é a dificuldade em mudar de atividade, quem lidava com a pecuária continua com o pensamento de criar gado em seu lote. O desafio da escola é lidar com estas particularidades e fortalecer a agricultura familiar em todos seus aspectos.
A Escola Três de Maio tem como princípios a Educação do Campo consolidada numa estreita relação entre a realidade de vida dos trabalhadores. Adota referencial teórico marxista e elementos da pedagogia popular, apontando a “luta social” e a “organização coletiva” como eixos formativos. O pensamento de Marx aponta para a emancipação das classes populares e a formação do ser integral, na medida em que afirma a necessidade de superar as relações de dominação e a formação unilateral baseada no modo de produção capitalista. Assim orientada, a Educação do Campo assume características de uma educação de classe em vista de seu empoderamento.
Na abertura do primeiro capítulo do Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels afirmam: “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes” (2007:40).
Um dos elementos metodológicos centrais da Educação do Campo é a pedagogia da alternância, caracterizada pelo revezamento de atividades formativas no âmbito escolar e outras desenvolvidas na propriedade e na comunidade de origem do aluno. Na década de 1960, a pedagogia da alternância chega no Brasil, nas Escolas Família Agrícolas (EFAs) e, a partir dos anos 1990, também nas denominadas Casas Familiares Rurais (CFRs). Sua proposta pedagógica possibilita a relação intrínseca entre conhecimento científico e conhecimento tácito, propiciando uma completa relação teórico/prática, o que permite ao jovem ter a oportunidade de emancipação e/ou permanência no campo, se assim o desejar.
A pedagogia da alternância tem por objetivo possibilitar formação científica, tecnológica e humana aos jovens do campo sem que abandonem seu trabalho e ambiente de vida. A pedagogia da alternância, com seu estatuto popular e integrador das diversas dimensões da vida humana, se contrapõe à pedagogia tecnicista impulsionada no Brasil durante a ditadura militar. Para Saviani (2007, p. 379), a pedagogia tecnicista está baseada “no pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade”.
A pedagogia da alternância, por sua vez, não só alterna metodologicamente tempo escola e tempo comunidade, mas também se constitui em uma proposta alternativa do ponto de vista político-pedagógico, incorporando aspectos das chamadas pedagogia libertadora, histórico-crítica e emancipatória, que tem como referência maior a obra de Paulo Freire. A Pedagogia Crítica recusa a tese da neutralidade do conhecimento, da escola e da formação. Propugna a educação como um processo político, “não apenas porque contém uma mensagem política ou trata de tópicos políticos de ocasião, mas também porque é produzida e situada em um complexo de relações políticas e sociais das quais não pode ser abstraída” (GIROUX,1997, p. 88).
A Educação do Campo procura entender como se dão as relações de poder econômico, político, cultural e social. Além disso, empenha-se na superação de pressupostos epistemológicos e ideológicos que dão sustentação e reproduzem a lógica capitalista. Desse modo, a referida escola se orienta no fortalecimento da cidadania dos indivíduos e grupos historicamente desfavorecidos da sociedade. E, para alcançar esses objetivos, considera indispensável à formação de educadores críticos ou “intelectuais orgânicos”, como denomina Gramsci, referindo-se aos intelectuais que se conectam as lutas políticas e culturais dos subalternos.
A partir do momento em que um grupo subalterno se torna realmente autônomo e hegemônico, suscitando um novo tipo de Estado, nasce concretamente a exigência de construir uma nova ordem intelectual e moral, ou seja, um novo tipo de sociedade e, portanto, a exigência de elaborar os conceitos mais universais, as armas ideológicas mais sofisticadas e decisivas. (GRAMSCI, apud SEMERARO, 2001,p.169)
A perspectiva crítico-emancipadora busca articular de forma indissociável a teoria e a prática, entendendo a formação como condição da possibilidade de uma sociedade mais justa e igualitária. A educação popular emerge enquanto “pedagogia do oprimido” e se expressa como “prática da liberdade”, “pedagogia da autonomia”, “pedagogia da esperança”, contrapondo-se à “educação bancária”, alienante, domesticadora, opressora e colonialista (FREIRE, 1975). Ela se firma enquanto teoria que elucida a realidade e como prática política de intervenção no mundo. Neste sentido Freire (1975, p.26), aponta para um ensino que cria as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção, pois a educação é um exercício dialógico, um ato político, um processo contínuo e sempre inacabado.
Além de resgatar e ressignificar elementos epistemológicos e metodológicos importantes da educação popular, a Educação do Campo põe no centro desse processo os sujeitos coletivos, os movimentos sociais que, com sua firme resistência ao modelo neoliberal, contribuem com a construção de um projeto popular para o país. Estabelece-se, dessa maneira, uma relação indissociável entre educação, escola, política, classe social, cultura e projeto de sociedade. A Educação do Campo também evoca a necessidade do diálogo, da interação, da transdiciplinaridade ou, como formula Boaventura de Sousa Santos, da ecologia de saberes, que trata do [...] conjunto de epistemologias que partem da possibilidade da diversidade e da globalização contra-hegemônicas e pretendem contribuir para as credibilizar e fortalecer. Assentam-se em dois pressupostos: 1) não há epistemologias neutras e as que clamam sê-lo são as menos neutras; 2) a reflexão epistemológica deve incidir não nos conhecimentos em abstrato, mas nas práticas de conhecimento e seus impactos noutras práticas sociais. Quando falo de ecologia de saberes, entendo-a como ecologia de prática de saberes (SANTOS, 2008, p.154).
Na alternância, a formação integral, é concebida como um processo de aprendizagem no currículo, cuja concepção, visa desenvolver nas pessoas suas várias dimensões e a interação com as diversas formas de saberes e ensino. Gimonet (200, p. 120) chama de alternância integrativa, ou alternância real “[...] Esta não se limita a uma sucessão de tempos de formação teoria e prática, mas realiza uma estreita conexão, interação entre os dois, além de uma reflexão sobre a experiência”. Portanto, concebemos como pedagogia da alternância uma proposta educacional que tem como intencionalidade pedagógica a formação integral do alternante e a sua convivência com o meio em que vive, sendo capaz de refletir sobre sua realidade e interferir na mesma.
Nesta concepção, a realidade vivida pelos estudantes e suas comunidades é objeto central na formação, ou seja, o tempo comunidade determina a organização curricular do tempo escola. No que tange a formação, a pedagogia da alternância baseia-se em valores humanos, levando em consideração a dialética de teoria e prática, respeitando a pessoa como um ser único com tempo e processo de aprendizagem diferenciado, valorizando a diversidade de saberes e a cultura camponesa.
Uma vinculação efetiva dos tempos e espaços alternados, em uma unidade de tempo formativo, não se tratando de mera sucessão de tempos teóricos e tempos práticos (SILVA, 2000; 2003).
No processo de formação da pedagogia da alternância o papel desenvolvido por cada membro é muito importante. Dentre eles, destacamos o estudante, as famílias, a comunidade e os educadores. O estudante é sujeito e autor da formação. Ele é agente de articulação dos dois tempos formativos, estando presente nos espaços escolar, familiar e comunitário, como pesquisador dos processos e relações que são construídas nesse meio. É junto com os demais membros da comunidade, protagonista de ações que interferem na realidade na qual está inserido. As famílias possuem na pedagogia da alternância uma função primordial no processo de aprendizagem dos estudantes. Elas estão presentes e atuantes na construção da identidade dos mesmos. Os familiares interagem com a escola no processo de formação dos estudantes a partir dos diversos saberes socialmente construídos. A comunidade é o espaço físico de vivência. Nela os estudantes poderão colocar em prática os conhecimentos adquiridos na escola. Esta é uma fonte de conhecimentos, ou seja, é na família e na comunidade que os estudantes recebem as primeiras noções de educação, cultura e sociabilidade.
O processo de formação por alternância,começa na comunidade através de pesquisa e investigação, passando depois pela escola como espaço para reflexões a partir das diversas teorias e retorna para a comunidade por meio de intervenções, novos questionamentos e novas pesquisas. O educador/monitor tem o papel de agente catalisador de potencialidades. Sua principal função é motivar a aprendizagem, através da pesquisa e investigação da realidade. Dessa forma, ensina as teorias, proporcionando ao estudante o autoconhecimento, a história de sua comunidade e do seu país, bem como, as contradições e conflitos no contexto mundial e nacional, que possa repercutir na realidade local, visando planejar estratégias para uma possível intervenção no meio. Ele é um educador que tem papéis múltiplos no processo de formação. A alternância exige da equipe docente, habilidades diversas, entre elas, conhecimento dos ambientes sócios profissionais, presença e vivência no terreno profissional dos alternantes e uma formação pedagógica específica, seguida de um aperfeiçoamento contínuo.
Para dar sustentação ao trabalho desenvolvido no Assentamento, a organização foi fundamental para fortalecer essa nova experiência. Foi constituída uma equipe denominada Equipe de Apoio composta por representantes das entidades que davam apoio ao Movimento: Comissão Pastoral da Terra, Sindicatos (Combativos), Igrejas, Escolas Famílias Agrícolas, MEPES (Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo) e Comissão dos Assentados e Pais.
Com o decorrer do tempo, a proposta inicial de educação se tornou realidade. Como em outros estados o MST já desenvolvia algumas experiências alternativas. Surgiu então a necessidade de colocar em comum o que se fazia dentro de outras escolas em outros estados onde o Movimento estava se organizando. Neste sentido foi proposto a realização de um Seminário para colocar em comum estas experiências. Este Seminário aconteceu em julho de 1990 no município de São Mateus, com o tema central: “O que queremos com as Escolas dos Assentamentos”. Mais de sete estados participaram deste seminário. Neste seminário foram propostas várias linhas políticas onde se definiu os objetivos e os princípios norteadores das escolas dos assentamentos no Brasil.
A elaboração teórica dos princípios filosóficos e pedagógicos da educação do MST foram sistematizadas a partir das discussões que envolviam famílias, educandos e educadores, utilizando o diálogo através da organicidade do trabalho. Esta organicidade estava estruturada da seguinte forma: cada escola indicava dois participantes para formar o Setor Regional que indicava dois representantes para o setor estadual. O Setor Estadual indicava dois representantes para o setor nacional. O setor estadual tinha a tarefa de orientar, proporcionar a formação político pedagógica dos educadores e educadoras, educandos e educandas, famílias e comunidades em áreas de reforma agrária MST/ES, fazendo intercâmbio entre os órgãos governamentais e os Assentamentos. Para avançar nas proposições era necessário garantir a elaboração de materiais para subsídio das escolas e da organização, partindo do acúmulo de experiências desenvolvidas nas referidas escolas.
OS INSTRUMENTOS DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO INTEGRAL E O DESENVOLVIMENTO DO MEIO.
O plano de formação na pedagogia da alternância possibilita a organização do tempo escola e do tempo comunidade, na perspectiva da formação integral e do desenvolvimento comunitário. Este é organizado a partir das demandas e vivências trazidas pelos estudantes e suas comunidades. Portanto, visa pensar quais teorias ajudam a compreender as contradições da realidade vivida e quais ações necessitam ser desenvolvidas pelos estudantes na comunidade, como:
a) Plano de estudo
possibilidades de contribuir para o desenvolvimento social, político, econômico, cultural, entre outros, bem como, na relação homem/natureza/produção de maneira sustentável. Para organizar didaticamente a formação, a alternância lança mão de um conjunto de instrumentos.
De acordo com Santos (2004), os instrumentos pedagógicos da alternância são classificados em instrumentos de pesquisa (plano de estudo, folha de observação e estágio), instrumentos e atividades de comunicação (colocação em comum, tutoria, caderno de acompanhamento da alternância, visita à família e comunidade), instrumentos didáticos (visitas e viagens de estudo, serão de estudo, intervenções externas, cadernos didáticos, atividade de retorno, experiências e projeto profissional) e instrumentos de avaliação (avaliação semanal e avaliação formativa).
Para melhor compreensão, segue cada um dos instrumentos e sua contribuição no processo de formação integral dos estudantes e do desenvolvimento das comunidades das quais fazem parte, segundo os documentos dos CEFFAs: É um instrumento de pesquisa/investigação da realidade. Através deste, o estudante aprende a desenvolver um olhar investigativo sobre a realidade local e global, possibilitando descobrir quais são as contradições, dificuldades e potencialidades de sua comunidade. Visando construir estratégias de fortalecimento das potencialidades e colocá-las a serviço da superação das dificuldades que foram apontadas pela pesquisa.
b) Folha de observação
“É um instrumento utilizado como suporte ao plano de estudo” (Ibid, p.30). Nesta, os estudantes fazem anotações fundamentais para aprofundar algum conteúdo específico que não fora analisado no plano de estudo. O monitor é quem prepara as questões, e as direciona de acordo com a temática a ser pesquisada e aprofundada pelo alternante.
c) Atividade de pesquisa e reflexão
Cuja temática é demarcada pelo professor, tem como objetivo a pesquisa durante o tempo comunidade. A apresentação da pesquisa e partilha da experiência é feita na escola, para toda a turma. Assim, os alternantes sociabilizam os conhecimentos adquiridos a partir da pesquisa.
d) Estágio
É uma ferramenta dinâmica, cujo objetivo é fazer interação entre as diversas áreas do saber. Portanto, é denominado de estágio informativo e orientativo. O primeiro permite aos estudantes ampliarem os conhecimentos além do espaço EFA. Isto é, a partir do contato com culturas diferentes daquelas vividas na escola ou na própria comunidade. O estágio orientativo, permite que os estudantes façam uma experiência concreta da área profissional que deseja atuar no futuro. O estágio orientativo permite aos alternantes desenvolver uma consciência da dimensão social do trabalho. A colocação em comum é um momento de partilha de conhecimentos entre os estudantes e os educadores. Segundo Santos (Ibid. p. 32), ela ocorre em três momentos, “A descrição dos fatos observados na realidade pesquisada, a análise desses fatos em função da demanda da realidade e uma tomada de consciência para planejar uma ação e/ou intervenção”. Assim, podemos afirmar que a colocação em comum trabalha: a dimensão cognitiva e educativa dos estudantes possibilitando-os uma formação integral.
e) Tutoria
Consiste em um acompanhamento personalizado ou de pequenos grupos. Por intermédio dela, “o professor pode perceber quais aspectos da educação precisam ser mais aprofundados com o estudante, ou com o grupo” (Ibid, p. 32). Ajudando-os no processo de formação integral, interagindo o conhecimento teórico com o saber prático da realidade cultural da família e da comunidade.
f) Caderno de acompanhamento
Os estudantes fazem as anotações de suas experiências formativas no âmbito escolar, espaço comunitário, e, através dos passeios. Essas anotações permitem aos pais e aos monitores fazerem uma avaliação efetiva, intervindo diretamente nas demandas, nas necessidades a serem melhoradas e no processo de aprendizagem. A leitura do caderno de acompanhamento da alternância varia de acordo com a sessão de cada EFA, que pode ser semanal ou quinzenal.
g) Visita à família e comunidade
É um instrumento primordial na dinâmica de formação dos estudantes, ambas são as primeiras a oferecer os meios necessários para uma formação integrada. Na visita familiar e comunitária, os estudantes aprimoram sua aprendizagem do espaço e tempo escolar. As visitas e viagens de estudo são atividades pedagógicas formativas, essencial no tempo de aprendizagem da EFA. Envolvem a participação de pais, educadores e estudantes. Um aspecto primordial das visitas e viagens de estudo é a troca de experiências de vida e aprendizagem de outras comunidades. Para tanto, as visitas e viagens de estudos devem estar relacionadas com o plano de estudo, ou seja, de acordo com o tema que está sendo trabalhado. No que tange ao serão de estudo, esse tem como finalidade proporcionar espaços de reflexão e manifestações da cultura camponesa. A título de exemplo, o serão de estudo pode ser através de apresentações teatrais, folclóricas, músicas, filmes, palestras, dança de capoeira e concurso de poesias, dentre outros. O serão de estudo ocorre no período da noite, e sua configuração, não precisa ser de acordo com a temática do plano de estudo.
h) Caderno didático
Este tem como objetivo manter os estudantes sempre atualizados. É construído com a temática do plano de estudo e leva em conta a realidade e necessidade de cada turma. Um aspecto positivo do caderno didático é a utilização desse material como fonte de pesquisa. Neste caderno, contém anotações da experiência familiar e da realidade da comunidade.
i)Atividade de retorno/experiência
É um instrumento que tem como objetivo socializar, o conhecimento adquirido a partir do plano de estudo. A dinâmica de apresentação deste começa no espaço e tempo escolar, posteriormente abrange a família e comunidade. A partilha do conhecimento pode ocorrer através de palestras, ou mediante a intervenção prática. Por exemplo, preparar ração para animais pelo método fenação.
j) Projeto profissional dos estudantes
Objetiva a inserção no mundo do trabalho, o fortalecimento da agricultura camponesa, e a sustentabilidade ambiental. Assim, os estudantes poderão fazer uma auto-avaliação, conhecendo a si mesmo e a sua realidade, identificar as potencialidades do meio sócio profissional familiar e traçar metas pessoais, familiar e profissional.
l) Caderno da realidade
Possibilita ao estudante sistematizar a pesquisa, avaliar a aprendizagem, rever todas as atividades do plano de estudo, anotar a história da família, do meio onde vive, dentre outros. É um instrumento que possibilita uma tomada de consciência do processo de aprendizagem, construído no tempo comunidade e no tempo escola.
Os instrumentos da pedagogia da alternância se consolidada como ferramenta pedagógica importante na formação integral dos sujeitos do campo, pois é possível uma reflexão sobre os estudos apresentados, assim podemos definir que essa metodologia de ensino promove um enlace entre trabalho desenvolvido na propriedade e o conhecimento teórico adquirido, valorizando a experiência do aluno numa interação entre escola, família e comunidade, utilizando a interdisciplinaridade e os eixos temáticos no processo de aprendizagem. Assim, proporciona uma educação com formação integral que respeita as peculiaridades regionais, valorizando a história do homem do campo, sua cultura e valores.
A Pedagogia da Alternância mira a formação integral dos jovens para contribuir com o desenvolvimento do meio rural. Para tanto, os jovens precisam tanto dos conhecimentos teóricos e científicos como dos conhecimentos práticos que envolvem o seu meio e de uma formação humana para assumir a responsabilidade em todos os aspectos da vida coletiva. Segundo Jean Claude Gimonet,(2007, p.15) baseia-se em quatro pressupostos: o desenvolvimento do meio, a formação integral do educando, a associação de pais e a Pedagogia da Alternância. Estes quatro elementos, chamados pelo autor de “pilares” da Pedagogia. Esses pilares não poderiam ser desenvolvidos de forma isolada. Ao contrário, o bom funcionamento de um CEFFA e, conseqüentemente da Pedagogia da Alternância, só é possível por meio de uma ação que tenha por base uma articulação entre esses elementos.
Esse modelo pedagógico só pode ser posto em prática por meio da construção de um vasto número de relações sociais, muito mais amplas do que aquelas de aluno-professor. Seria uma “pedagogia da partilha” na qual educandos, monitores, pais, mestres de estágios, ex-alunos e membros da associação formam parcerias que tornam viáveis não somente o funcionamento da escola, como também a aplicação dos princípios pedagógicos dessa metodologia - rede complexa de relações (GIMONET 2007,p. 81).