Depois de quase 20 anos de luta, os jovens assentados em Dois Riachões, avaliam que a reforma agrária, mesmo pensada para dar errada, é possível fazer a diferença. Como avalia Ruben Dário: a reforma agraria pra mim hoje é uma realidade. Todos meus colegas já morreram, mas a reforma agraria me mostrou outra perspectiva e me garantiu a estabilidade.
Um dos maiores aprendizados, avaliam é que na luta há horas para armas, mas tem momentos que só a educação é capaz de vencer. Com isso, a maior expectativa do assentamento é expandir suas fronteiras ideológicas e criar um território agroecológico através da Educação. Como afirma Luciano: Uma escola que dê conta da produção de vida, e que possa levar a resistência da comunidade e englobe a tecnologia desde a base da educação até a graduação.
Dentro da Produção, o assentamento está provando que o camponês é capaz de dominar não somente a cultura do cacau, mas de definir um modelo de agricultura diversificada e com soberania alimentar. Por isso, dois Riachões tem a honra de ser a primeira área a obter a certificação Orgânico Brasil na Região Sul da Bahia, garantir que todos os produtos do assentamento tenham o Selo Orgânico Brasil e a Certificação do ECOCERT, podendo exportar seus produtos. Produzir um cacau diferenciado, desenvolver o NIBs[1] de cacau, produzir a amêndoa fermentada de qualidade e análise do CIC – Centro de Inovação do Cacau, exportar cacau através da AMMA, concluiu o primeiro lote do chocolate orgânico do assentamento. Além de criar um protocolo do “cacau cabruca[2]” com o Movimento SLOWFOOD para valorizar o produto nos espaços de comercio justo e solidário. E por fim, a exposição na terra Madre – Itália.
Tudo isso, sendo desenvolvido no assentamento através do sistema SAF – Sistemas agroflorestais, intercalando culturas de um ano até 20 anos, garantindo a diversificação da produção, a produção de cacau a sombra, melhorando a renda das famílias através dos trabalhos coletivos e em mutirão.
O assentamento Dois Riachões está provando que é possível construir uma teia de conhecimentos, troca de experiências e aprendizados para criação de autonomias comunitárias e melhoria da qualidade de vida. Através do avanço na diversificação da produção, na comercialização e no consumo (cardápios inovadores) aproveitando todo o potencial da produção e adotando práticas solidárias através dos canais de comercialização. A participação da juventude, das mulheres e priorização da educação são os pilares dessa experiência inovadora de qualidade de vida somada ao cuidado com o meio ambiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Pequenos pedaços de amêndoa de cacau que foram previamente torrados e triturados.
[2] A Cooperativa CABRUCA compromete com a valorização da produção orgânica e agroflorestal associada à conservação da Mata Atlântica. O principal produto hoje é o cacau certificado cultivado sob à sombra das árvores nativas da Mata Atlântica no tradicional sistema agroflorestal chamado «cabruca». A Cooperativa incentiva a diversificação dos sistemas agroflorestais através do cultivo de palmeiras como açaí e pupunha; especiarias como pimenta-do-reino, cravo e baunilha; e frutíferas como o cupuaçu, graviola, goiaba, banana, guaraná entre outras. https://www.cabruca.com.br