Os moradores da fazenda Laje são Melquíades Ribeiro Spíndola, 70 anos; Maria de Fátima Macena Spíndola, 65 anos; a filha do casal Edivânia Ribeira Espíndola, 42 anos; e seu filho mais novo, Daniel de 16 anos; além de um funcionário da fazenda, que não tem relação familiar com os proprietários. Todos partilham dos direitos e deveres do dia a dia na fazenda, exceto o senhor Melquíades, que por motivos de invalidez se viu obrigado a deixar os trabalhos. Os pais de Edivânia tiveram três filhas. Edivânia que vive na fazenda com seus pais; Eliene que vive nas redondezas e que também trabalha na cooperativa e na associação, e uma outra que vive atualmente na cidade.
Nos últimos 10 anos, outras pessoas viveram e trabalharam na Fazenda Laje, incluindo o avô de Edivânia, o marido e o seu outro filho. Destes, os dois primeiros faleceram, e o filho mais velho de Edivânia mudou-se para a cidade. Toda a família nasceu na região do Criminoso, menos a mãe de Edivânia que veio do estado da Paraíba, no nordeste Brasileiro, e que chegou na região do Criminoso com sua família quando tinha apenas 1 ano de idade.
Os constituintes da Associação dos Produtores Rurais da Região do Criminoso e Silveira e da Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar da Região do Criminoso e Silveira são famílias residentes na região. Por estes grupos serem constituídos por famílias completas as suas características em termos de gênero e idade são heterogêneas. Quanto à sua origem a maioria da população é nascida no estado de Goiás ainda que existam elementos que são originários de outros estados Brasileiros, especialmente dos estados que fazem fronteira com Goiás.
No total, são membros da Associação e da Cooperativa 21 famílias, sendo que, a maior parte das famílias integra ambos os projetos.
As terras da família Ribeiro Espíndola são bem providas de água. O riacho Lage, que dá nome à Fazenda, corta-a ao meio, sendo assim uma importante fonte de água não só para a fazenda, mas para toda a região do Criminoso. Além do riacho, há poços artesianos e minas de água que abastecem o local com abundância.
Atualmente, o acesso à educação é um problema em toda a região do Criminoso. Não há escolas na região e os estudantes precisam utilizar o transporte público para chegar até elas, sendo que a mais próxima fica a cerca de 20Km. A viagem é penosa para muitos deles, que precisam andar a pé até a estrada onde o ônibus cedido pela prefeitura realiza o transporte. Entretanto, desde agosto de 2015 o transporte escolar está temporariamente suspenso, devido à crise econômica que assola o município de Niquelândia. A Prefeitura alega não ter dinheiro para pagar o transporte escolar e as crianças estão sem acesso a educação no momento.
O atendimento à saúde pública e gratuita está garantido para todos moradores da região. Um médico vai à Associação dos Produtores uma vez por mês e presta atendimento à população. Porém, algumas vezes o médico falta e a população fica desatendida.
Os camponeses da região costumam trabalhar em sistema de colaboração com os vizinhos, relata o Senhor Melquíades Spíndola:
"Desde quando começamos a tocar roça aqui, em 1970, os vizinhos vinham ajudar. A gente trocava os dias. A gente marcava, né, marcava a data. Vinha o vizinho ajudar a cortar o arroz, depois eu ia pagar o vizinho, trabalhando pra ele. Aqui todo mundo fazia assim".
A Associação dos Produtores Rurais
Em 2001, o esposo de Edivânia teve uma ideia que mudaria para melhor a vida de alguns dos moradores da região do Criminoso. Ele queria um espaço para que sua família pudesse vender na feirinha do Produtor Rural, realizada às quartas e sábados na cidade de Niquelândia. Mas o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que organizava a feira, afirmou que os espaços eram coletivos, e que só associações tinham acesso a eles. Então, ele teve a ideia de juntar os vizinhos e fundou a Associação dos Produtores Rurais da Região do Criminoso e Silveira. Esta iniciativa, atualmente, reúne 21 famílias e promoveu mudanças profundas na vida da família Ribeiro Spíndola e de seus vizinhos, relata Edivânia:
"Aqui não somos uma associação de homens, mas de famílias, todos participavam. Aos poucos, fomos ganhando estrutura. A gente fez economia e comprou o local que hoje é a sede. Construímos a sede e a partir daí, começamos a plantar as lavouras comunitárias. No primeiro ano, os homens se reuniram, plantaram a lavoura de milho e houve muita fartura."
O terreno para a produção coletiva de milho era arrendado, mas os resultados da grande produção permitiram que as famílias aumentassem a criação de porcos e galinhas, que eram alimentados com esse milho. Desde então, esta roça coletiva é realizada anualmente e é orgulho da Associação dos Produtores Rurais.
Hoje, a Associação se transformou no núcleo organizativo das famílias da região.
"A reunião da Associação hoje, que é mensal, é, na verdade, um momento para gente reunir todos os moradores aqui da região. A gente passa muito tempo juntos, são 21 famílias associadas hoje em dia, mas 12 delas trabalha junto na Cooperativa também. Então, estamos sempre juntos trabalhando e buscando melhorias para a região". (Edivânia Ribeiro Spíndola, moradora da Fazenda Lage).