A família Ribeiro Spíndola, assim como a maior parte dos camponeses da região, realiza a rotação de culturas nas áreas de plantio. Isso evita que a terra fique sem nutrientes e esgotada pelo plantio periódico dos mesmos alimentos.
Atualmente, a família se organiza para cuidar dos 23 alqueires de terra através da matriarca, de Edivânia, do filho mais jovem e de um funcionário que ajuda na ordenha das vacas leiteiras. A matriarca cuida do gado com a ajuda do neto e o funcionário realiza a ordenha das vacas. Logo, Dona Maria de Fátima, com o leite das vacas, produz queijos às terças e sextas-feiras. A media de produção é de cerca de 50 queijos semanais, que são vendidos na feira do Pequeno Produtor Rural, realizada às quartas-feiras e sábados. Além disso, eles também são responsáveis pelo cuidado das plantações e animais da Fazenda. Porcos, galinhas, horta, mandioca, cana, tudo é produzido próximo à moradia da família. Edivânia administra as contas e a casa. Senhor Melquíades, atualmente doente, já está retirado das tarefas laborais.
Toda a produção da família é levada ao comércio local. Os queijos, ovos, farinha e polvilho constituem os principais produtos comercializados. A feira do pequeno produtor, realizada duas vezes por semana, é a vitrine para os produtos, mas eles também são entregues em restaurantes e hotéis da cidade. Além disso, os vizinhos e conhecidos da cidade sempre fazem encomendas dos deliciosos queijos de Dona Maria de Fátima, ovos, farinha e polvilho.
A Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar da Região do Criminoso e Silveira (Coopercrim)
Assim como a Associação dos Produtores Rurais, a Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar da Região do Criminoso e Silveira (Coopercrim) também foi gestada e impulsionada no seio da família Ribeiro Spíndola, conta Dona Maria de Fátima: “A associação e a cooperativa tudo saiu aqui da nossa casa”.
Mas o caminho foi longo até que a ideia pudesse ser o sucesso que é hoje. Em 2010, Eliene, filha de Dona Maria de Fátima e Senhor Melquíades, participou de uma reunião de pequenos produtores rurais do município de Niquelândia e foi lá que tomou conhecimento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)[1] e do Programa Nacional de Alimentação Escolar[2], que permitia que o governo federal adquirisse antecipadamente alimentos produzidos pela agricultura familiar. As prefeituras deveriam adquirir no mínimo 30% dos produtos da merenda escolar do PAA. Eliene teve a ideia de reunir as mulheres da região para organizar uma produção destinada à merenda escolar.
“No início só 7 quiseram porque tudo que é novo a gente fica com o pé atrás, não acredita muito. Depois de uns dias houve adesão de mais duas e nós começamos o projeto do PAA. Na época fazíamos 4.108 roscas 2 vezes por semana. Era tudo feito à mão. A gente começava às 5h da manhã e tinha dia que íamos até as 11h da noite. Assando naquele forninho de lenha, de barro, com poucas forminhas, era o maior sofrimento” (Edivânia Ribeiro Spíndola).
Dona Maria de Fátima se cansou das penúrias e resolveu financiar a compra de um forno para a produção pelo Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar. Ela acreditou no projeto e fez uma dívida pessoal para impulsionar o projeto coletivo das mulheres da região. Com este impulso, o trabalho se tornou menos pesado e a produção também aumentou. “A partir deste momento, todo mundo viu que nosso projeto tinha futuro”, conta orgulhosa Edivânia.
Com mais este impulso, Eliene resolveu dar um novo passo. Escreveu um projeto social para a empresa Anglo American – empresa de mineração que atua no município de Niquelândia -, solicitando apoio para a aquisição de equipamentos. Após um ano de espera, o projeto foi aprovado e a empresa cedeu R$60 mil em equipamentos para o empreendimento produtivo das mulheres. Porém, para que o investimento fosse recebido, o grupo precisaria trabalhar numa contrapartida. O local foi reformado e completamente adaptado às normas legais para a produção de alimentos. Este foi um grande passo para que a Coopercrim- também chamada Sabores da Fazenda – se tornasse o grande empreendimento que é hoje.
Economicamente, o funcionamento era simples: pagar as dívidas e dividir o lucro com as camponesas que trabalhavam no local. Edivânia lembra que “a gente não fazia caixa, economia, etc., não pensávamos muito no futuro ainda”.
Em 2013, Eliane escreveu outro projeto para impulsionar as atividades produtivas das mulheres e propôs ao Instituto Votorantim, que coordenava o Projeto ReDes. O Projeto é uma iniciativa do Instituto Votorantim – ligado à Votorantim Metais, que atua na exploração do minério de Níquel na cidade de Niquelândia – e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. “Foi o único projeto escrito por gente do campo mesmo. Minha irmã entrou com a cara e a coragem” (Edivânia Ribeiro Spíndola, presidente da Cooperarem). As mulheres solicitaram um caminhão para que o transporte dos produtos estivesse garantido.
A proposta foi aprovada e em novembro de 2013, elas deram mais um grande passo: inauguraram a nova sede e o Projeto Redes. Através da parceria, as mulheres da Associação puderam dar um grande salto no empreendimento econômico que dirigiam. Em 2013 elas decidiram criar uma outra estrutura que se dedicasse apenas ao empreendimento produtivo: a Cooperativa. A Cooperativa, juridicamente, pode atuar em comércio, o que com a Associação era impossível. Nasceu assim a Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar da Região do Criminoso e Silveira (Coopercrim), também conhecida como Sabores da Fazenda.
Atualmente, a Coopercrim fornece alimentos panificados para o grupo Votorantim, com duas entregas diárias; para a padaria de dois supermercados da cidade e aceitam encomendas diversas. A Cooperativa é o maior provedor de panificados do munícipio e tem um lucro líquido de cerca de R$35 mil mensais. Cada mulher ganha, em média R$1.200,00, um salário considerado alto para os padrões do campo na região, principalmente porque muitas destas mulheres não tinham nenhuma renda antes de participar da Cooperativa.
São 15 associadas, trabalhando em regimes de turnos, 8h por dia. “Estas mulheres são as mesmas que participaram na Associação desde o inicio, são as mesmas famílias” (Edivânia Ribeiro Spíndola, presidente da Coopercrim). Edivânia explica que hoje eles trabalham com a Associação dos Produtores e com a Cooperativa, que são as mesmas famílias nas duas organizações, mas que a Associação é mais voltada para o desenvolvimento geral da região e das famílias camponesas, enquanto a Cooperativa tem o intuito de gerar renda para estas famílias. Cada organização tem sua administração e direção, mesmo sendo compostas pelas mesmas famílias.
Atualmente, o maior desafio da Cooperativa é a formação técnica. “A nossa maior dificuldade ainda até hoje é em termos de qualificação de pessoal. A escolaridade das pessoas que moram no campo ainda é muito baixa e isso dificulta muito”, revela Edivânia. As camponesas já realizaram um curso de panificados, realizado pelo Serviço Nacional da Indústria.
As perspectivas para o futuro são expandir a venda dos panificados na cidade de Niquelândia e atender aos outros municípios da região. Também pretendem participar novamente do PAA, que é um contrato anual, mas que dura apenas três meses.
[1] O PAA é um programa do Governo Federal de combate à pobreza e de fortalecimento da agricultura familiar. O programa permite a compra antecipada diretamente dos agricultores familiares, assentados e demais povos do campo para formação de estoque e distribuição à população em maior vulnerabilidade social, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
[2] O PNAE é o Programa Nacional de Alimentação Escolar e foi instituído em 1995 e garante a alimentação escolar. No PNAE, as escolas têm de destinar 30% da aquisição dos alimentos da merenda escolar a agricultores familiares.