Os moradores do sitio Nossa Senhora da Aparecida são Adiva Nunes Pereira, 60 anos e Vicente, 63 anos. Até 2012, Dona Adiva aí vivia com seu marido, José Pereira, que faleceu nesse ano e com quem estava casada desde os 18 anos de idade. Em 2014, voltou a casar-se, desta vez com Vicente, seu atual marido. Dona Adiva é natural de Santa Terezinha de Goiás, que também fica ao norte e está a 289km da capital do estado, Goiânia. Ela viveu toda sua vida na roça, exceto por um curto período de tempo, logo após seu primeiro casamento em que viveu na cidade de Uruaçu. Mas, segundo Dona Adiva, sempre preferiu morar na roça.
“Prefiro morar na roça que na cidade; acho que é melhor em todo o sentido. Eu não tenho um estudo para morar na cidade e certos serviços para mim não tem como eu trabalhar. Aqui na roça é bruto mesmo, e eu acho melhor”.
Vicente também é natural de Santa Terezinha e toda a sua vida viveu no campo.
No Projeto de Assentamento Conceição vivem 58 famílias. Estas famílias são maioritariamente originárias de zonas rurais do estado de Goiás e dos estados vizinhos (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Bahia e Minas Gerais). Em relação ao gênero e idade as características da população são heterogêneas.
As terras de Dona Adiva são bem abastecidas de água pelo córrego Biliágua, mas que tem difícil acesso devido à altura do seu barranco, e por uma pequena nascente que brota perto da sua residencia.
Os camponeses do Assentamento criaram a Associação dos Trabalhadores Rurais e Agricultura Familiar do Assentamento Conceição, que atualmente está com suas atividades suspensas. Dona Adiva já foi da coordenação da Associação, mas segundo ela, as demandas dos camponeses eram sempre proteladas nos órgãos competentes, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma e isso foi fazendo com que as famílias deixassem de atuar na Associação.
Atualmente, o acesso à educação é um problema no Assentamento. Não há escolas no assentamento e os estudantes precisam utilizar o transporte público para chegar até elas, sendo que a mais próxima fica a cerca de 13Km. A viagem é fatigante para muitos deles, que precisam andar a pé até a estrada onde o ônibus cedido pela prefeitura realiza o transporte. Alguns estudantes, que residem mais próximo à cidade, caminham diariamente para ir até a escola ou utilizam bicicletas como meio de transporte.
O atendimento à saúde pública e gratuita não está garantido para os moradores da região e apenas um agente de saúde visita o assentamento periodicamente. “Não tem nenhum serviço público aqui”, diz Dona Adiva. Caso os moradores necessitem de atendimento médico, seja de rotina ou de urgência, precisam se dirigir até a cidade. As famílias que não possuem veículo próprio, como é o caso de Dona Adiva, tem bastante dificuldade para aceder a qualquer tipo de serviço público.
Os camponeses da região normalmente trabalham de maneira familiar em suas propriedades e quando necessitam de alguma ajuda, recorrem a um método tradicional de cooperação: a troca de diárias. “Aqui o pessoal não tem costume de fazer mutirão. Ai todo o mundo trabalha sozinho e se precisar de alguém paga uma diária”, relata Dona Adiva.
Culturalmente, os camponeses são fortemente marcados pela religião e por suas festas. Dona Adiva realiza anualmente a festa de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, em louvor à santa. A festa é realizada há mais de 20 anos e além de rezas, cantorias, baile, distribui muita comida e brincadeiras para as crianças da região. Outra festa bastante esperada e que conta com a participação de vários moradores é a Folia do Divino Espírito Santo, realizada anualmente em maio. Nesta festa, os foliões passam de casa em casa, há rezas, comida e festas com música e baile.
Além das festas, a televisão e o rádio – que chegaram com a energia elétrica - constituem a diversão dos moradores. O acesso à cultura é escasso e depende da ida à cidade.