Características demográficas e culturais da população
Atualmente vivem na comunidade de Vão de Almas 215 famílias, cerca de 1.075 pessoas. No Vão do Moleque: 390 famílias, 1. 950 pessoas. No Engenho II : 125 famílias, 625 pessoas. Totalizando 3.650 pessoas somente na área rural do município de Cavalcante – Goiás. Já na cidade, a estimativa é que cerca de 2.000 pessoas residam no local, totalizando 5.650 mil Kalungas no município de Cavalcante. Os outros Kalunga estão divididos entre os municípios de Monte Alegre e Teresina. Estima-se que no Quilombo tenha cerca de 9 a 11 mil pessoas, segundo relatos do Presidente da Associação.
A população entre 15 e 64 anos compreende 51,3% da população e 80% das residências são habitadas por mais de cinco pessoas. A taxa de escolaridade é baixa, sendo que 91% da população possui, no máximo, o ensino fundamental. Nesta pesquisa, que englobou 768 casas de família, sete chefes de família se declararam como indígenas e outros como negros. Destes, 20% afirmaram estar trabalhando com outra atividade além da agricultura, 3% deles com carteira assinada. Grande parte da população é atendida por programas sociais do governo, sendo que 69,7% delas fazem parte do Cadastro Único de Programas Sociais, como os quais têm benefícios para que os filhos se mantenham na escola, por exemplo. A renda per capita é baixa, apresentando os seguintes percentuais: 40,6% das pessoas vivem com ate? R$ 70 por mês; 16,7% têm renda entre R$ 70 e R$ 140; 14,4% entre R$ 140 e R$ 255; 13,3% entre R$ 255 e R$ 510 e 14,7% ganham mais de R$ 510. Vale ressaltar que estes valores são exteriores à comunidade e ao modo de vida tradicional Kalunga. A comunidade produz quase toda sua alimentação e tem uma economia baseada na troca, não no trabalho assalariado e compra de produtos. Este tipo de relação econômica e social ainda está penetrando com certa demora entre os Kalunga, em parte pelo pouco contato com o exterior e também por resistência do próprio povo.
As casas tradicionais da comunidade Kalunga eram todas construídas de palha, pau a pique e adobe, tudo retirado da natureza ao seu redor . Eram todas amarradas de embira, corda retirada da própria madeira. Por serem feitas destes materiais eram muito expostas a vários tipos de insetos, o que causava muitas mortes por chagas e malária. Hoje 54% das casas já possuem cobertura de telha; 53% das moradias ainda são construídas da forma tradicional, de barro ou argila; 60% ainda tem piso de chão; 58,3% não possuem banheiro e 62% não possuem água encanada. O abastecimento de água é, em sua maior parte, realizado através de cisternas, rios, nascentes e igarapés da região.
As políticas públicas ainda são muito deficientes. Apenas 3,6% dos moradores receberam recursos do Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar.
As manifestações culturais Kalunga são representadas pelas rezas, folias e festas, que foram transmitidas de geração por geração pelos seus ancestrais, por meio da oralidade que se mantém ainda hoje nas comunidades. Essas festas são de devoção aos santos e representam a fé e a cura dos enfermos em cada localidade.
Há um processo de fortalecimento da identidade Kalunga, através de vários projetos sociais do governo, de Organizações Não Governamentais e, principalmente, do trabalho da Associação Quilombo Kalunga.
As relações sociais foram se modificando com o tempo, mas ainda estão profundamente enraizadas no povo Kalunga. Na comunidade, todos são parentes. Todos são tios, sobrinhos e primos. Há comunidades nas quais as casas foram construídas distantes uma da outra, mas na maioria delas, há um núcleo residencial que se localiza muito próximo. As relações de vizinhança e parentesco se misturam. Os Kalunga viajam dias no lombo de seus cavalos e bois e a pé para participar das festas que ocorrem anualmente nas diversas comunidades. É o momento de reunião, de dança, de ver os parente e estreitar os laços.