Terra de índios e negros
“ Os mais velhos contam a lenda de que Cachoeirinha começou dois século atrás. Contam que os negros libertos tavam procurando um lugar para viver e encontraram aqui, entre o Rio Verde e a Lagoa da Jaíba. Ali, do lado do rio tinha uma aldeia de índios, os Arapúas. Este povo teve seus conflitos, conviveu, se misturou e as famílias foram crescendo até chegar à gente " (Sr. Jader, assentado na Comunidade Vitória).
A maior parte das pequenas cidades e povoados do Norte de Minas Gerais e Sul da Bahia é formada por descendentes de negros e indígenas que se apossaram de terras devolutas (2) e desocupadas. Eles se instalaram ali naturalmente e construíram uma comunidade baseada na cultura de subsistência e colaboração entre os moradores, tão comum nas culturas que lhes deram origem.
Em 1946, outro fluxo migratório levou mais posseiros à região, atraídos pela construção da ferrovia na cidade de Janaúba, próxima à Cachoeirinha. Logo, por volta do final dos anos 1950, outros posseiros chegaram, quando a ferrovia foi finalmente ligada. Eram, principalmente, migrantes vindos do Nordeste.
Na década de 1950, o governo iniciou projetos estaduais de colonização. Em 1961, o governo estadual anunciou um grande plano de “reforma agrária” para levar o desenvolvimento capitalista ao norte de Minas Gerais. Foi somente neste momento que os camponeses tentaram legalizar as terras das quais se haviam apossado. Eles já estavam organizados, as Ligas Camponesas avançavam no país e a luta pela terra era um assunto cotidiano. Tentaram reuniões, ações judiciais, mas acabaram enrolados por promessas e questões burocráticas e não conseguiram avançar no processo de regularização fundiária de suas terras.
Neste momento, grandes proprietários de terras, iniciaram um processo de apropriação de extensas áreas rurais na região. Compraram terras de antigos proprietários ou posseiros. Uma vez compradas algumas terras, se apossavam de mais e mais terras ao redor. Também falsificaram títulos de terras, enganaram pequenos proprietários e cometeram uma série de ilegalidades comuns na história agrária brasileira. Em 1964, com a instalação da ditadura militar, esse processo se aprofundou ainda mais, pois os latifundiários tinham todo o apoio dos governos locais e do próprio Estado como instituição.