30 anos lutando
Em 08 de maio de 2000, mais 100 famílias retomaram outra parte das terras da Comunidade Cachoeirinha. Essa área foi chamada pelos camponeses de Acampamento Vitória e corresponde à antiga Fazenda Ypiranga. Logo após a ocupação, lançaram o seguinte manifesto: “Não aceitamos ser enrolados. É tempo de fazer roça, de preparar a terra. Em vez disso, ficam pedindo para saírmos da terra e falam que querem paz e não violência. Em troca nos oferecem mais não sei quantos anos em filas de espera, miséria e opressão ".
Mas os grandes fazendeiros da região não viram a nova ocupação com bons olhos. Os camponeses foram perseguidos por jagunços. "Tinha jagunço aqui sempre. Eles vinham e disparavam contra o Acampamento e depois iam embora. Era assim quase todo dia“, conta Sr. Santo, assentado na Comunidade Vitória.
Os camponeses passaram anos e anos brigando pela desapropriação destas terras na justiça de Minas Gerais (MG). Em julho de 2013, o juiz Octávio de Almeida Neves, da Vara Agrária de MG emitiu uma decisão de reintegração de posse contra as famílias. Neste momento, os camponeses já tinham um documento de posse que lhes havia sido entregue pelo Instituto de Terras do Estado de Minas Gerais (ITER-MG), anos antes. Com este documento, os camponeses acreditavam que tinham o direito legal de permanecer em suas terras. No dia 21 do mesmo ano, a comunidade bloqueou a rodovia MG422 em protesto contra a reintegração de posse.
Em 11 de novembro realizaram um novo ato. Fecharam a Rodovia 401, em Verdelândia, solicitando solução para o caso da Comunidade Vitória e de outras 40 áreas em litígio na região.
“Não fazia muito tempo, habíamos realizado uma audiência pública com o Incra em Montes Claros, onde apresentamos uma pauta com problemas de mais 40 áreas, todos gravíssimos, e que temos enfrentado com nossas próprias forças há mais de 15 anos e durante todos esses anos temos cobrado do Estado uma solução. Várias destas famílias vivem ameaçadas permanentemente por ordens de reintegração de posse. Ameaçadas pelos latifundiários através de provocações e ação de pistoleiros. Vivemos perseguidos pelos órgãos ambientais. Acossados pelas mineradoras e por todo tipo de corporação“, explica Sr. Sula.
Os camponeses receberam apoio de todo o país e conseguiram que, em 21 de outubro de 2014, o Tribunal de Justiça reconhecesse, finalmente, o direito de posse das terras pelos camponeses da Comunidade Vitoria. Essa decisão anulou a liminar de reintegração de posse que havia sido concedida em 2013. A decisão também reconheceu a validade dos títulos emitidos entregues às família pelo ITER – MG, que considera as terras da fazenda Ypiranga um dos tantos latifúndios que invadiram as terras dos posseiros desde a década de 1960, e decidiu por incluir a propriedade no processo de regularização fundiária promovido pelo governo estadual.
Para comemorar, os camponeses saíram às ruas da cidade. Junto às famílias que foram assentadas, marcharam os camponeses que participaram das batalhas de 1960 e 1980 pelas terras da Cachoeirinha. Após essa manifestação, Cleomar Rodrigues, dirigente da LCP do Norte de Minas e Sul da Bahia foi assassinado em uma emboscada, quando retornava a Pedras de Maria da Cruz, onde residia.