Cachoeirinha foi a semente
Atualmente, 50 anos depois do maior conflito agrário do Norte de Minas, a região do Cachoeirinha, concentra o maior número de áreas de reforma agrária do estado de Minas Gerais. Há 18 áreas, entre acampamentos e assentamentos: Santa Clara, Vitória, Verde Água e Brejo dos Crioulos, Caitité, União, Boa ?Esperança, Arapuá, Arapuim, Verde Minas, Betânia , Serrana, Bom Jardim, Lagoinha, Volta da Serra, Bom Sucesso, Modelo e Nova Esperança; sendo a área total desses assentamentos correspondente a, aproximadamente, 20% da área total do município de Verdelândia.
Hoje, Verdelândia é um município que respira um ar verdadeiramente camponês, em que pese várias áreas que ainda são dominadas pelo latifúndio. É uma comunidade que não esqueceu nem abandonou sua cultura tradicional, fortemente marcada pela influência indígena e africana e faz questão de recordar a memória da luta dos posseiros de Cachoeirinha.
Os assentamentos União e Caitité, primeiros assentamentos do município de Verdelândia, são constituídos pelos posseiros que lutaram na década de 1960. Os outros assentamentos, como a comunidade Vitória, e acampamentos são formados por familiares, filhos, e novos camponeses pobres que chegaram à região. A organização de décadas dos primeiros posseiros de Cachoeirinha é, ainda hoje, referencia para os novos lutadores da reforma agrária.
De batalhas e vitórias
Os camponeses realizaram por conta própria a divisão da terra, chamada por eles de Corte Popular. Hoje, plantam e colhem diversos produtos, além de produzir carne, leite e outros mantimentos que abastecem o comércio de Verdelândia e outros municípios da região. Vivem em casas de alvenaria e transitam em estradas que eles mesmo construíram. Além disso, construíram reservatórios de água, conquistaram luz elétrica e muitas benfeitorias para a comunidade.
As mulheres se organizam para processar coletivamente a mandioca, produzindo farinha e polvilho. Elas se dividem entre as que raspam, outras passagem no processador, outras lavam e outras colocam a massa na prensa. Logo, também se dividem para nos fornos para cozinhar e torrar a farinha.
A produção dos camponeses é tão satisfatória que, conta o Sr. Jader, que ao ser procurado por uma funcionaria do governo para o cadastro de recebimento de cesta básica de alimentos para famílias carentes, respondeu: “Aqui na roça, moça, ninguém precisa de cesta-básica. Precisa de trator e dinheiro prá tocar a terra. O povo na rua precisa de cesta-básica, porque não tem recurso. Mas, aqui não.”
O trabalho coletivo é um dos pontos fontes de todos os camponeses da área de Cachoeirinha, principalmente dos assentamentos União, Catité (as primeiras ocupações) e Vitória (a última ocupação). É comum ver os vizinhos se visitando e se ajudando. No Assentamento Catité, por exemplo, um dos camponeses possui um curral de embarque de gado, que sempre é emprestado aos que necessitam. Outro, possui uma máquina de moer ração que também acaba ajudando a todos os assentados.
Além de trabalhar, os camponeses também se divertem. Há duas casas comercias na região, que nos fins de semana promovem shows bastante concorridos pela juventude.
A escola da região está no Assentamento União. Nos fins de semana também são promovidos eventos esportivos na quadra da escola.