A região do sudeste do Pará é caracterizada pelo relevo plano a cerca de 200 metros acima do nível do mar e faz parte do bioma da Amazônia, apesar do alto nível de desmatamento na região. É nessa região, no município de Parauapebas, que se encontra também a Serra de Carajás, local onde a maior mina de minério de ferro a céu aberto vem sendo explorada desde 1984 pela empresa Vale S.A (antiga Vale do Rio Doce). O Complexo Minerador de Carajás se encontra dentro da Floresta Nacional de Carajás e faz parte de uma série de grandes obras colocadas em prática pelo governo militar a partir das décadas de 1960 e 1970 para consolidar o projeto de desenvolvimento escolhido para o país na época.
O período se caracterizou também pela abertura de grandes rodovias - como a Transamazônica - que aumentaram o contingente migratório para a região, o que fazia parte da política de integração do território nacional durante os anos 1970. O slogan utilizado pelo governo neste período - "levar homens sem terra para a terra sem homens" - além de justificar a fomentação da migração, principalmente proveniente do nordeste, deixava claro a invisibilidade dos povos tradicionais já estabelecidos da Amazônia para o Estado. A implantação de “Grandes Projetos” e das Superintendências de Desenvolvimento Regionais (SUDAM, na Amazônia) durante o regime militar incentivou a produção mineiro-siderúrgica, a implantação de hidrelétricas e a pecuária extensiva, projetos esses que tem como base a promoção de forte concentração fundiária, mudando drasticamente e violentamente a organização espacial antes existente na região amazônica.
Por outro lado, o surgimento do garimpo de ouro na Serra Pelada (Curionópolis - PA) em 1979, aumentou a migração de camponeses, pequenos proprietários e sem terras de todo o país para a região de maneira muito rápida. As atividades de garimpo em Serra Pelada tiveram duração de pouco mais de uma década e chegaram a contar com mais de 10.000 garimpeiros morando e trabalhando na região por dia, o que gerou uma tensão e disputas entre as formas de uso da terra ligadas ao campesinato e os interesses do Estado, via Grandes Projetos, que dura até os dias de hoje. Na década de 1980, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Pará, que por sua vez foi fundado por ex-garimpeiros de Serra Pelada, passou a promover mudanças qualitativas na disputa político territorial na região. O movimento passa então a protagonizar ações de enfrentamento à concentração fundiária que assola, principalmente, as regiões do sul e sudeste do Pará, por meio de ocupações de grandes propriedades e enfrentamento direto aos grandes proprietários, grileiros e outros atores hegemônicos.
O Pará é um dos estados brasileiros que conta os mais altos índices de conflitos por terra nos últimos trinta anos, além de ter sido palco dos dois maiores massacres no campo na História recente do país: Eldorado de Carajás (1996), e Pau d’Arco (2017), com 19 e 10 pessoas assassinadas, respectivamente, segundo os dados oficiais. Segundo os moradores da região, ao se contar as vítimas póstumas aos eventos dos massacres, seja por ferimentos causados na ocasião, ou por consequências psicológicas e afins, o número de vítimas pode chegar a triplicar. Para além dos massacres, situações onde 3 ou mais vítimas são assassinadas numa mesma ocasião (segundo a metodologia da CPT), na região sul e sudeste do Pará, os assassinatos resultantes da luta pela terra não são incomuns, sendo a maioria deles não investigados e punidos.
A luta pelo acesso à terra na região, é constituída de gente com histórias marcadas pela despossessão, pela migração e pelo despejo, muitas vezes ao longo da vida inteira:
"Fui criada migrando de município a município nessa região. Uma família pobre, sem posse nenhuma, vivendo de aluguel [...] em condições que eu posso dizer, hoje, sub-humanas. De não ter casa pra morar, de não ter terra pra plantar... De viver na terra dos outros... Incomodava, dava um certo tempo tinha que sair." Beth Trocate