A PRODUÇÃO DE ALIMENTO COMO FORMA DE RESISTÊNCIA
A resistência das famílias na luta pela terra, tem sido fortalecida pela organização interna, mas também pela produção diversificada de alimentos. Nas roças de toco, são produzidos: arroz, feijão, milho, mandioca, abóbora, melancia, maxixe,fava e etc. E nos quintais produtivos são cultivadas as: hortaliças, frutíferas, ervas medicinais e; há a criação de animais de pequeno porte (galinhas e suínos). Os lotes de terra explorados pelas famílias são de aproximadamente cinco hectares e desse pedaço de terra, todas as famílias tiram seu sustento e ainda comercializam o excedente no comércio de Barra do Ouro e Araguaína.
Além de abastecer o comércio de Barra do Ouro com alimentos saudáveis, as famílias da Serrinha participaram da feira agroecológica realizada no mês de maio de 2018. Foi destaque na feira, a participação das mulheres com a exposição e comercialização de massa de puba, que é usada para fazer mingau e bolos. Na banca, elas ofereceram: café, leite, beiju, pamonha, canjica e bolos de polvilho. A segunda feira agroecológica, é uma ação promovida pela CPT e Articulação Camponesa, que objetiva valorizar a produção de alimentos saudáveis e a luta das famílias camponesas pela terra.
Figura 7 Feira agroecológica em Araguaína, 2018
Fonte: Antônia Laudeci Morais
A produção de alimento na Serrinha cumpre especialmente a função de sustento das famílias. Mas para garantir a renda e não precisarem saírem para trabalhar nas fazendas, as pessoas produzem farinha de mandioca, galinha caipira e a melancia para a comercialização. Os recursos financeiros que fomentam a produção são exclusivamente dos próprios trabalhadores, não contam com financiamentos e nem apoio do município para custear a produção.
A produção que mais se destaca na comunidade, é o plantio de mandioca, pois, a mandioca tem boa adaptação no solo arenoso e exige poucos recursos no preparo do terra. As famílias seguem o costume tradicional do povo da região de guardar a semente da mandioca, que é a maniva, para ser plantada na safra seguinte. Assim, o custo da produção se torna menor e preserva a variedade. Outra prática importante entre os camponeses (as), é a troca das sementes, especialmente no período do plantio. Assim, a mandioca, além de ter o custo baixo na produção, beneficia as famílias com vários subprodutos que alimentam a família e são comercializados na região: o polvilho, a massa de puba, a farinha branca, farinha de puba e a mandioca em si.
O trabalho na roça envolve toda a família, mas o serviço mais pesado como o roçado e a coivara é mais praticado pelos homens. As mulheres e os jovens se envolvem na fase do plantio, na capina e na colheita. Todavia, há algumas mulheres, como Dona Rosa, que trabalham em todas as fases do preparo da roça.
A farinhada, por exemplo, é uma atividade exaustiva com várias etapas que envolve toda a família, dos mais velhos aos mais jovens. Nessa atividade, são bem divididas as tarefas: os homens colhem a mandioca; as mulheres e os jovens descascam e lavam; os homens trituram no caititu ou no ralo e põe na prensa; as mulheres peneiram e os homens torram a massa no forno aquecido a lenha. Na figura 8, é possível visualizar o processo do preparo da farinha de mandioca na Serrinha. Importante ressaltar que nem sempre essas atividades são bem definidas entre homens e mulheres; em algumas famílias em que a mulher é a chefe da casa, essas atividades são desenvolvidas exclusivamente por elas.
Figura 8 Etapas da farinhada na Serrinha.
Fonte: Valéria Santos e Antônia Laudeci Morais
A produção de arroz também é considerada muito importante pelos camponeses. Todas as famílias mantêm o cultivo da roça de arroz para o consumo próprio. O arroz, assim como a mandioca, exige a dedicação da família no preparo da roça e na colheita que envolve o corte, a batida, a secagem, armazenagem e beneficiamento. O beneficiamento do arroz é realizado no pilão de madeira que ficam instalados junto à casa de farinha. E as famílias também fazem questão de guardar as sementes para novos plantios[1].
Figura 09 O cultivo de arroz na Serrinha
Fonte: Antônia Laudeci Morais
Para as famílias da Serrinha, o que mais dificulta a vida na comunidade, é a insegurança da posse da terra. Eles também clamam por acesso a recursos financeiros (créditos) para melhorar a produção e o acesso à energia elétrica pra facilitar o trabalho no beneficiamento dos produtos.
Outros desafios que as famílias enfrentam estão relacionados à preservação do cerrado. E nessa batalha, todos os anos no período do verão tem o risco do fogo descontrolado que se alastra queimando o cerrado e as benfeitorias das famílias. Assim, as pessoas fazem uso do aceiro para evitar a queima das casas e das roças. Também existe um monitoramento em relação ao uso do fogo nas roças e as lideranças orientam e fiscalizam as queimas das roças para evitar o fogo descontrolado. Foi observada também a existência de monitoramento em relação à preservação das nascentes e ao desmatamento das áreas de preservação, sendo que não é permitida na comunidade a retirada de madeira para a comercialização.
[1] Existem duas formas de armazenamento da semente do arroz: uma é os cachos do arroz pendurado no teto da casa e a outra é a semente guardada em vasilhame pet.
REFERÊNCIAS
MDA- Ministério do Desenvolvimento Agrário. Oficio/INCRA/SR-26/OAR/Nº 42. Ouvidoria Agraria Regional: Palmas/TO, 03 de junho de 2015.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/to/barradoouro/pesquisa/38/47001?tipo=ranking&indicador=47001. Acessado: 01 de agosto 2018.
SEPLAN – Secretaria do Planejamento e Orçamento do Tocantins. Perfil socioeconômico dos municípios, Barra do Ouro Palmas: Seplan/TO, 2017. Disponível em:https://central3.to.gov.br/arquivo/348455/, Acessado em: 20/09/2018.