AVANÇOS NA GESTÃO DO TERRITÓRIO E DA CONVIVÊNCIA COMO O SEMIÁRIDO: EXPECTATIVAS ECONÔMICAS, CULTURAIS E SOCIAIS DA COMUNIDADE URUÇU
Os novos processos que permitiram o empoderamento da comunidade na política territorial tiveram como práticas:
- A Economia Popular Solidária que valoriza as estratégias de sustentabilidade e solidariedade, fundamentada na organização coletiva de trabalhadores e trabalhadoras com interesse de melhorar a qualidade de vida por meio do trabalho associado, sustentado em três pilares: econômico, cultural e político;
- A Convivência com o Semiárido tendo como prioridade a adoção da cultura do estoque. Estoque de água para diversos usos - consumo humano, produção de alimentos e para servir aos animais, estoque de sementes para os próximos plantios, de alimentação humana e para os animais, entre outros. Na comunidade podemos destacar o Programa Um Milhão de Cisternas - P1MC que visa à melhoria na qualidade de vida garantindo o acesso a água de qualidade; e o Programa Uma Terra e Duas Águas - P1+2 garantindo um espaço, na propriedade, para plantio e criação de animais e a água para cultivar e manter a vida das plantas e dos animais. Esse programa tem o objetivo de promover a soberania e a segurança alimentar e nutricional das famílias agricultoras e fomentar a geração de emprego e renda e, estimular a construção de processos participativos para o desenvolvimento rural.
Com as leis de preservação das plantas endêmicas tem-se a garantia da liberdade de acesso às propriedades particulares, para o extrativismo e coleta dos frutos, apesar de ser uma pratica comum, antes da lei os extrativistas e coletores eram reprimidos pelos fazendeiros. Estas leis garantem também o uso de terras públicas, devolutas e privadas aos trabalhadores/as que as desfrutam em regime de economia familiar, conforme os costumes da região. Proibindo a derrubada e queimada de palmeiras de licuri e uso de herbicidas no processo de desbaste.
Outra prática agroecológica fundamental para a economia da comunidade do Uruçu é a hidroestesia - plantio de frutíferas nativas em veios d’água. Com essa prática podemos produzir frutas durante todo o ano com economia de água e de tempo com os tratos culturais. Além dos trabalhos familiares nas propriedades a Associação tem um cronograma de atividades coletivas definidas por sexo e idade. As limpezas da sede da associação e da casa de farinha são feitas por todos os sócios, as atividades artesanais, a higienização das frutas para a produção das polpas de frutas e a limpeza da casa de polpa são responsabilidade das mulheres, já a operação das máquinas de produção, o estoque e manutenção da câmara fria são executadas pelos homens.
A limpeza da sede da Associação e da casa de Polpa é feita a cada 15 dias, a casa de farinha funciona somente na safra da mandioca (maio a outubro) e a limpeza é feita semanalmente. As mulheres que confecciona o artesanato se reúnem uma ou duas vezes na semana e a produção de polpas depende da demanda e da safra das frutas, mas geralmente o grupo se reúne de 2 a 3 dias na semana.
Os associados avaliam que as atividades coletivas e as divisões de tarefas é uma forma que cria confiança e unidade no grupo, e a partir da troca de experiências todos/as aprendem, adquirem maior independência e aumenta a autoestima: “nos tornamos mais autônomos/as e mais empoderados/as afirma Neide, Secretaria da Associação”.
A comercialização: apesar da garantia do Programa Nacional de Alimentação Escolar, a venda para alimentação escolar é menor que no comércio local. Mas, de acordo com os moradores, a grande variedade de frutas da caatinga é um potencial em crescimento, necessitando de um plano de negócio e novas estratégias de divulgação.
Vale destacar que a Festa do Licuri, é um evento importante na convivência com o semiárido, desenvolve uma profunda revolução cultural. Segundo Roberto Malvezzi (2007, p. 21), essa mudança não passa apenas por novas tecnologias e pela distribuição da terra, mas pela alma, a inteligência, os valores de cada pessoa e das comunidades da região.
Essa festa tem como objetivo a capacitação dos produtores e produtoras para o beneficiamento, a educação ambiental, a valorização das tradições, a promoção e divulgação dos produtos, o estímulo à gastronomia dos sabores locais, parcerias com outras instituições públicas e da sociedade civil, a integração escola comunidade através da poesia, cordel, danças, cantigas de rodas, etc., a valorização da agricultura familiar com sua diversidade produtiva e cultural. Com isso, o licuri tornou-se uma fonte de renda para muitas famílias e esperança para os jovens, as inovações no beneficiamento e a festa temática ajudam a melhorar a renda e a autoestima desses jovens, evitando o êxodo rural. Dessa forma, o festejo tem como finalidade manter viva a tradição (cultural e relação com o meio ambiente) da comunidade.
É necessário abordar a participação e o empenho da juventude, boas partes dos jovens se interessaram pela festa por ser algo da comunidade, em prol de um objetivo nobre, a preservação da palmeira, outros por curiosidade e influência dos amigos. Por meio da festa, os jovens passaram a ter uma visão diferente sobre a natureza, a preservação do meio-ambiente. Reconheceram os esforços que seus pais/avôs fizeram para sobreviver em tempos passados e a diferença entre o ontem e hoje na renda familiar. Hoje a comunidade avalia que obtiveram um incremento na renda, tanto na agregação de valor da produção como no artesanato.
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Tygel, Daniel. O que é Economia Solidária. Disponível em: https://cirandas.net/fbes/o-que-e-economia-solidaria em: 27 mar 2018.
Malvezzi, Roberto. SEMIÁRIDO Uma Visão Holística. Disponível em: http://robertomalvezzi.com.br/wp-content/uploads/2016/06/phpCDo4mz.pdf em: 27 mar 2018.
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