No processo de construção do corredor de áreas protegidas do Médio Xingu, no Pará, os movimentos sociais da região e organizações parceiras conseguiram fazer da demanda do estudo algo incorporado pelo próprio Ministério do Meio Ambiente (MMA). Em 2003, no início do governo Lula, a secretária responsável pela ações na Amazônia dentro do ministério, Mary Alegretti, que vinha do movimento extrativista, abriu o espaço para que, de fato, o estudo sobre o corredor fosse realizado formalmente. Então, na verdade, a demanda pelas informações era mais do que do movimento social da região, era do próprio governo federal.
O reconhecimento daquela área, com aquelas dimensões, seguia sendo uma questão sobretudo política. Tratava-se de mobilizar quase nove milhões de hectares para a criação de unidades de conservação, um grande desafio. Por outro lado, aquela era uma região reconhecidamente afetada pela grilagem de terras, com pouquíssima titulação de áreas. Portanto, do ponto de vista de enfrentar interesses privados legais, não havia muito problema em propor o corredor.
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Outro fator importante no processo da Terra do Meio foi o papel exercido pelas lideranças locais. Pois além de elas estarem vivendo situações muito graves, de ameaças de morte, tiveram coragem de ir a Brasília se posicionar. Inclusive no MME. No dia da audiência com a coordenadora de Meio Ambiente do MME, a delegação contava com representantes das ONGs, parlamentares duas lideranças locais. E dois jornalistas estavam lá para entrevistá-las. A presença da imprensa e dos ribeirinhos pressionou a representante do MME a avançar na discussão e colocar claramente o motivo da resistência, o que permitiu que a resolução da Aneel fosse posta na mesa e desse início ao fim do impasse.
É importante ressaltar o papel do SNUC como marco legal que prevê diversas possibilidades de conservação ambiental. Entre as categorias de unidades de conservação previstas pela lei, há figuras que contemplam a existência de populações extrativistas, como as reservas extrativistas e as reservas de desenvolvimento sustentável. O trabalho na Terra do Meio se desenvolveu dentro deste marco legal, observando as diferentes figuras que compõem o sistema.