Vale do Guapiaçu, 14, 15, 16 e 17 de setembro de 2016
I
Nossa vida era de escravidão
Todos direitos roubados
Deixando corpos mutilados
Sem igual na Região
Tudo teve origem com a concentração do chão
A exploração começada logo cedo de madrugada
E o som da sirene representava destruição
Explodiram o trabalho, destruíam matas, aipim e o feijão
Fazendo de nossas vidas, uma vida bem amarga
Concentraram nossa terra, agora querem concentrar água
II
Nossa luta não para e temos que perceber
Todo esse sofrimento fez juntar mãos e mãos
Animamos as comunidades, fizemos grande mutirão
Esse trabalho comunitário trouxe um novo amanhecer
Começou a juntar gente, atingidos por barragens, universidades o MAB e AGB.
Nossos olhos se abriram, foi mudança repetitiva
Melhoramos a organização e o jeito de produzir
Estamos só no começo, temos muito a construir
Pois a luta todo dia tem sido a nossa sina
Lutamos por Território, pelo Brasil e uma nova América Latina.
III
O capital pega nossa cultura e enterra
Como pudesse a cultura enterrar
Ela é terra, é água, é fogo, é ar.
E por isso que a luta não se encerra
Temos jeito próprio de cuidar da terra
Nessa guerra que travamos em nossa lida
Ela vai além do Capital
Esse já sabemos que faz mal
Que visa impedir a tradição repetida
Lutar por território é também lutar por vida
IV
Temos jeito próprio de ser
E de relacionar com a natureza
Não tenho dúvida, falo com certeza
Embora não possa parecer
Contra a lei do Estado desobedecer
O latifúndio temos que impedir
Todas as barragens temos que destruir
E construir território em mutirão
Libertar a mãe natureza, pra viver a libertação
Estes versos são frutos das falas e vivências relatadas pelos representantes dos movimentos presentes no IV Encontro pela Terra e Território
Por Plácido Júnior – Geógrafo e agente da CPT NE II – Pernambuco
Entre os dias 14 e 17 de Setembro de 2016, foi realizado no Vale do Guapiaçu, região do município de Cachoeiras de Macacu-RJ, o IV Encontro Internacional pela Terra e o Território. Nessa área 1000 famílias estão ameaçadas pela construção de uma barragem. O encontro foi uma iniciativa do LEMTO-UFF (Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades)e do Instituto Sudamerica Rural (Instituto para el Desarollo Rural de Sudamérica), com sede na Bolívia. Contou com o apoio do MAB-RJ (Movimento dos Atingidos por Barragens) e a AGB (Associação dos Geografos Brasileiros). O evento buscava promover um espaço de encontro para troca entre diferentes experiências de luta pela terra e o território, buscando superar o desafio do isolamento geográfico, político e cultural entre as comunidades.
O IV Encontro Internacional pela Terra e o Território reuniu vinte representantes de experiências inspiradoras de acesso à terra e ao território e, ainda, professores, estudantes e militantes de movimentos sociais das cinco macrorregiões do Brasil, da Colômbia, da Bolívia e do Chile. Foram três dias e quatro noites de vivência no centro comunitário de Serra Queimada (localidade do vale do Guapiaçu), onde foram debatidas o sentido comum e as especificidades das experiências. Algumas questões conduziram as conversas e reflexões:
"Memória, Luta e Território: De onde Viemos?"
"Comer, Curar, Habitar e Conviver - A Invenção Criativa da Vida"
"Nossos grupos (ou comunidades?) e movimentos que relação estabelecemos com as Instituições (governos, ONGs e outras)?
(Sistematização Gráfica por Bianca)
Grupos, Comunidades, Movimentos Socias, Instituições presentes no Encontro:
LEMTO-UFF - Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades, Rio de Janeiro
IPDRS - Instituto para el Desarrollo Rural de Sudamérica, Bolívia
AGB - Associação dos Geógrafos Brasileiros
APIB - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Articulação Puxirão de Povos Faxinalenses - PR
Associação Quilombola Brejo dos Criolos - MG
Brigadas Populares
Comunidade Caraíbas Norte de Minas – MG
Comunidade Quilombo do Kalunga – GO
Comunidade Quilombola Castainho – PE
Comunidades Ribeirinhas do Rio São Francisco
CPT – Comissão Pastoral da Terra
MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens
MCP - Movimento de Comunidades Populares
MIQCB - Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco babaçu
Movimento dos Ilheus do Rio Paraná - PR
MPP - Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais
MST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra
NETAJ-UFF - Núcleo de Estudos sobre Territorialidades Ações Coletivas e Justiça, Rio de Janeiro
Povo Kaingang – PR
Povo Suruí-Aikewara - PA
Povo Xavante, Terra Indígenas Marãiwatsédé – MG
Quilombo Paiol de Telha – PR
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apodí – RN
Via Campesina -
Xingu Vivo para Sempre
Fuente: http://www.lemto.uff.br/index.php/noticias/38-ivterraterritorio2016